by Martha Gabriel - atualizado em 21/out/2020, publicado originalmente em 10/mar/2017
O sonho humano de criar tecnologias que solucionem todas as dimensões da vida é tão antigo quanto a alquimia buscando transformar metais comuns em ouro. No entanto, a história nos ensina que toda bênção tecnológica vem acompanhada de alguma maldição – não existem tecnologias neutras, todas trazem impactos positivos e negativos, transformando a civilização.
Conforme a penetração tecnológica na sociedade tem acelerado e as possibilidades de se viver eternamente começam a ser uma possibilidade e não mais apenas ficção científica distante, as reflexões sobre como as tecnologias transformam as nossas vidas têm dado lugar às reflexões de como as tecnologias nos transformam como seres humanos. Wearables e nanotecnologia proporcionam que implantes tecnológicos no nosso organismo sejam cada vez mais comuns, o que no limite podem nos transformar em híbridos de homem/computador. Isso pode ser a aurora de uma nova raça humana ou o seu fim como conhecemos. Talvez essa seja a maior transformação na evolução humana desde o “homo sapiens sapiens”. Qual será, então, o futuro do “homo digitalis”? Se a tecnologia puder resolver todos os nossos problemas e nos tornarmos eternos, o que mais quereremos?
Para nos ajudar nessa reflexão, lancei mão do imaginário coletivo trazido pelo cinema desde o seu início, portanto quase um século de produção e reflexão. A intenção não é trazer as sinopses dos filmes/séries, mas as reflexões sobre cada um deles, de forma a pensar o impacto da tecnologia ali apresentada, conectando com o panorama amplo da evolução humana – o foco não é na tecnologia, mas no humano e nas implicações sociais, comportamentais, éticas, cognitivas articuladas por ela. Todos os filmes/séries aqui listados tratam de tecnologia (ou a falta dela) em algum grau, sendo na sua maioria ficção – portanto, a minha análise aqui não tem a pretensão de mostrar o futuro da humanidade, mas busca apenas auxiliar na reflexão sobre suas possibilidades e o que podemos ou devemos querer em função disso.
Para tanto, criei uma linha do tempo (ver abaixo) apresentando as datas de cada filme/série analisado. Por meio dessa imagem cronológica é possível perceber o aumento na quantidade de produções ao longo do tempo, culminando com um volume significativo nos últimos anos. Isso demonstra a inquietação crescente sobre os impactos da tecnologia na humanidade.
Vale ressaltar também que essa lista de filmes/séries não tem a pretensão de cobrir todo o universo de títulos que tratam sobre o assunto. O elenco de itens aqui apresentados é uma curadoria pessoal minha, que traça um caminho sugerido por mim, e que compartilho, com muito prazer, mas lembrando que essa não é a única estrada, muitas outras podem existir.
Para acessar a análise de cada título, clique na sua capa na imagem cronológica a seguir [spoiler alert] – as reflexões podem revelar conteúdos dos desfechos das narrativas]
OBS – apesar de muitos dos filmes/séries aqui listados serem premiados e aclamados, outros possuem produção bastante precária. O foco aqui não é a avaliação dos conteúdos por méritos de qualidade artística, de narrativa ou de produção, mas apenas pela sua contribuição potencial na reflexão sobre a introdução, possibilidades e/ou impactos da tecnologia na vida humana.
Vamos a eles ;-)
Metrópolis é um dos trabalhos pioneiros do gênero de ficção científica em filmes e, devido à sua importância, foi incluído no Memory of the World Register da UNESCO, em 2001.
Clássico do cinema mudo, o filme se utiliza de um cenário futurista (a narrativa se passa em 2026) com carros voadores, robôs e vida artificial para discutir questões sociais, como a igualdade de classes e estrutura da sociedade e do trabalho.
#robos #carrosvoadores #vidaartificial #ordemsocial
Tempos Modernos é um clássico do cinema, tendo se tornado símbolo da inquietação social decorrente dos impactos da automação instaurada nas primeiras fases da Revolução Industrial. O filme questiona e critica, por meio da atuação icônica de Charles Chaplin, a situação humana no processo de automatização do mundo pelas máquinas.
Além da importância do filme na época, fomentando awareness e discussão sobre a transformação do trabalho e suas consequências imediatas na estrutura da sociedade, acredito que esse filme continue sendo bastante instigante para discutir as transformações atuais, na revolução digital, a onda mais recente da Revolução Industrial. Traçando um paralelo entre o início do século com os dias atuais, as cenas do filme que mostram linhas de montagem e automatizações mecânicas na vida humana (questionando quem serve quem na relação homem/máquina), poderiam ser usadas para a mesma reflexão em relação ao uso das tecnologias atuais, as digitais, e o eventual poder que elas têm em gerar automação e alienação simultaneamente. Ao invés de um operário mecânico apertando parafusos em uma linha de montagem física, poderíamos argumentar que hoje temos indivíduos hipnotizados criando e consumindo feeds digitais em seus perfis sociais, de forma automática, alienada. Outra questão do filme de 1936, que continua extremamente atual, é o desconforto com a possibilidade de insegurança dos processos de automação, que é apresentado na cena da alimentação robotizada em https://www.youtube.com/watch?v=XLF1JZCxpxw. Hoje, os processos de automatização não são mais mecânicos, mas digitais, e qualquer falha em seus algorítmos, tem potencial para um impacto muito maior na sociedade, como aconteceu em 2010 com a bolsa de valores dos Estados Unidos, com um impacto de U$ 1 trilhão (ver em https://en.wikipedia.org/wiki/2010_Flash_Crash).
#robos #ordemsocial #automacao #alienacao #trabalho
O discurso final do filme é uma reflexão que traz inúmeros elementos relacionados com a transformação que a tecnologia traz para a humanidade, tanto de poder quanto de alienação. Assista o vídeo no início da página, e veja a seguir uma das minhas partes favoritas:
“O caminho da vida pode ser
o da liberdade e da beleza,
porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens,
levantou no mundo as muralhas do ódio
e tem-nos feito marchar a passo de ganso
para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade,
mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
-- Charles Chaplin
#ordemsocial #alienacaotecnologica
Como Metrópolis, Forbidden Planet é também um dos clássicos precursores do gênero sci-fi no cinema. Foi o primeiro filme a apresentar uma nave espacial mais rápida do que a velocidade da luz, criada e usada por humanos, fato que ainda hoje não se concretizou (http://super.abril.com.br/ciencia/nasa-estuda-forma-de-viajar-mais-rapido-que-a-luz/). O robô Robby é também um dos primeiros robôs incorporados como personagem, com personalidade, conversando em linguagem natural e parte integral do elenco. Em 2013, o filme foi incluído no National Film Registry da Library of Congress nos Estados Unidos, por ser considerado “cultural, histórica ou esteticamente significante”.
Depois de Forbidden Planet, outros filmes e seriados passam a apresentar personagens-robôs semelhantes ao Robby, como é o caso de Lost in Space (série, 1965), em que o robô faz parte do elenco principal e é um dos personagens essenciais para o desenvolvimento da narrativa.
O tema da conquista e exploração do espaço, incluindo outros planetas e relacionamento com outras formas de vida, é bastante recorrente no gênero de sci-fi, gerando clássicos como O Dia em Que a Terra Parou (filme,1951), Guerra dos Mundos (filme, 1953), Star Trek (série, 1966), Star Wars (filme, 1977), ET (filme, 1982), Encontros Imediatos de Terceiro Grau (filme, 1977), entre inúmeros outros, revelando-se como uma busca latente do espírito humano. Essa inquietação foi particularmente retomada recentemente pela corrida espacial comercial que está se estabelecendo com empresas como a SpaceX, de Elon Musk, Blue Origin, da Amazon (Jeff Bezos), e Virgin Galactic, de Richard Branson. A SpaceX tem desenvolvido espaçonaves e realizado viagens espaciais na última década e tem planos anunciados de levar humanos para estabelecer uma colônia em Marte em 2025 (http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/elon-musk-anuncia-projeto-de-levar-humanos-marte-20190067).
#robos #navesespaciais #interfacesdevoz #tradutoruniversal #velocidadedaluz #vidaartificial
Esse filme, de 1960, é uma adaptação do livro homônimo de H.G.Wells de 1895, que popularizou o conceito de “time travel” (viagem no tempo) usando um veículo que permite escolher e direcionar o destino no tempo.
No início do século XX, Hermann Minkowski escreveu um artigo consolidando o papel do tempo como a quarta dimensão do contínuo tempo-espaço (spacetime). Da mesma forma que nos movimentamos nas três dimensões do espaço (largura, comprimento e altura – eixos x, y, z), deseja-se também poder navegar na quarta (o tempo – passado, presente, futuro), como imaginado e apreentado no filme.
O termo “time machine” (máquina do tempo), cunhado por Wells, é usado universalmente para se referir a esse tipo de veículo ou dispositivo. Depois disso, produções como La Jetée (filme, 1962), Doctor Who (série, 1963), O Túnel do Tempo (série, 1966), Star Trek (série, 1966), Planeta dos Macacos (filme, 1968), O Exterminador do Futuro (filme, 1984), Back to the Future (filme, 1985), Twelve Monkeys (filme, 1995, baseado em La Jetée), Stargate (série, 1997), Timecrimes (filme, 2007) e diversas outras começaram a popular o cinema e literatura utilizando-se do conceito ou do tema “viagem no tempo”. Destaque para Primer (filme, 2004) que foca especialmente nas possiblidades e consequências de se viajar no tempo e Interestellar (filme, 2014) e Arrival (filme, 2016), que extrapolam o conceito linear do tempo, explorando o tempo circular e entrelaçado.
Os questionamentos apresentados em Time Machine vão além do conceito do tempo-- o filme aborda uma das questões mais recorrentes referentes à introdução da tecnologia na sociedade – a sua relação com o sentido da vida (ou falta dele). Conforme o personagem navega no tempo, várias reflexões tecnológicas e seus impactos são apresentados. O final é espetacular! Assisti esse filme quando era menina ainda, e ainda hoje penso sobre a última cena: “qual livro você levaria para o futuro para resolver os problemas da humanidade”?
O filme teve uma nova versão em 2002, dirigida pelo neto de H.G.Wells. Apesar de trazer algumas variações interessantes sobre o uso da tecnologia em alguns tempos, não apresenta a mesma qualidade que a versão original, além de ter suprimido o que, para mim, era a principal reflexão: a última cena, sobre que livro levar para o futuro ;-)
#timetravel #timemachine #sentidodavida #proposito #evoluçãohumana
Uma das séries animadas de maior sucesso na televisão desde os seus primórdios, Os Jetsons apresentam de forma divertida um vislumbre sobre o futuro tecnológico da humanidade, incluindo cidades suspensas, teleconferência, carros voadores, trabalho automatizado, consulta médica remota, robôs domésticos.
#cidadessuspensas #carrosvoadores #robos #robosdomesticos #medicinaremota #trabalhoautomatizado #teleconferencia
Star trek tornou-se um fenômeno cultural, extrapolando a série original dos anos 60, gerando diversos spin-offs. Apesar do foco da Frota Estelar ser a exploração do espaço em uma nova ordem planetária, o seriado se apoia de forma brilhante em recursos tecnológicos e apresenta seus impactos sociais. Tecnologias como teleporter, telefone celular, computador de bordo com análise imediata de dados, tradutor simultâneo de linguagens, são o pano de fundo para discussão de questões profundas como universalização e globalização com interação inter-multi-trans-cultural e necessidade de colaboração e negociação – caraterísticas que se revelam cada vez mais fortemente nos dias atuais. Um dos grandes feitos da série foi apresentar o primeiro beijo inter-racial da televisão (Kirk e Uhura em "Plato's Stepchildren"), caminho natural da interação cada vez mais intensa entre culturas distintas, que a tecnologia proporciona.
#teleport #celular #bigdata #negociacao #colaboracao #tradutoruniversal #universalizacao #viagensespaciais #inteligênciaartificial #timetravel
Esse filme foi co-escrito por Stanley Kubrick e Arthur Clarke, baseado no livro homônimo de Clarke, publicado posteriormente ao lançamento do filme no mesmo ano. 2001: Uma Odisseia no Espaço é um marco na ficção científica sobre a relação entre homem e tecnologia, e sobre a sua importância na evolução humana. O filme navega da primeira tecnologia na pré-história até as tecnologias avançadas do futuro. Na primeira parte (A Aurora do Homem), a descoberta de que um osso pode ser usado como arma ilustra e dá corpo à célebre frase de Marshall McLuhan: “o homem cria as ferramentas, e então, as ferramentas recriam o homem”. Como ferramentas podemos compreender, de forma mais ampla, qualquer tecnologia. Nas demais partes, o filme apresenta o videofone, viagens espaciais, hibernação criogênica, e “Hal”, o computador da nave que conversa em linguagem natural com a tripulação.
A terceira parte (Missão Júpiter) traz a principal reflexão do filme – máquinas inteligentes, homem vs robô, criador vs criatura. Essas temáticas já aparecem no livro I, Robot, de Isaac Asimov em 1950, inspirado no livro homônimo de 1939, de Eando Binder. Veremos nos demais filmes aqui apresentados, que essa temática se tornou cada vez mais recorrente na literatura e cinema ao longo do tempo, permeando diversos filmes de ficção científica – como Blade Runner (1982), por exemplo --, conforme os robôs cotidianos passam a ser uma realidade cada vez mais iminente no mundo.
O questionamento sobre a influência alienígena na evolução humana que o filme traz é retomado fortemente no final do século XX em Stargate (filme e série).
2001: Uma Odisséia no Espaço teve uma sequência, o filme 2010 (de 1984), que apesar de complementar o primeiro e ter uma excelente produção, fez pouco sucesso.
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Silent Running se assemelha em diversos aspectos com o filme de animação Wall-E, produzido em 2008, mais de três décadas depois. Em ambos, após uma catástrofe ambiental, os robôs salvam a possibilidade de existência de vida novamente no planeta Terra, por meio de mudas de plantas.
Enquanto discute a questão da sustentabilidade na Terra, o filme apresenta reflexões interessantes sobre o convívio e interação humanos com robôs.
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O filme Westworld, em 1973, é o precursor da aclamada série homônima lançada em 2016 pela HBO. Em ambos, o tema central são os robôs e a sua utilização como lazer e entretenimento para os humanos em um parque de diversões ambientado no velho oeste (WestWorld).
Apesar da estrutura da narração ser a mesma e a discussão da relação homem vs robô ser dominante tanto no filme como na série, os focos de reflexão são distintos. No filme em 1973, o questionamento principal reside no controle (ou a sua falta) dos robôs – um mal funcionamento faz com eles ataquem os humanos. Já na série, em 2016, a reflexão dominante fica por conta do desenvolvimento da autoconsciência nos robôs, que faz com que eles, eventualmente, se rebelem contra os humanos. A diferença é sutil, mas fundamental em termos de discussão e possibilidades de evolução.
Westworld tem inúmeras similaridades narrativas estruturais com Jurassic Park (1993), filme produzido 20 anos depois, ambientado em um parque de diversões populado por dinossauros. Nos dois filmes, os seres que compõem o parque (robôs ou dinossauros) são artificialmente criados pelo homem (recriação genética e engenharia) e fogem ao controle humano causando uma catástrofe.
O filme teve uma continuação, em 1976, Futureworld [trailer: https://youtu.be/lTMtu4Z5T-U]. No novo filme, o foco na relação homem versus robôs foi além, trazendo inquietações adicionais, como a possibilidade da substituição de humanos por robôs idênticos. Nesse sentido, o filme dialoga com Metropolis (filme, 1927) e expande as reflexões para abranger hackeamento humano e segurança de identidade. Mais tarde, em 1995, o filme The Net, explora o mesmo conceito de hackeamento de identidade, só que nesse caso, de forma informacional, por meio de registros computacionais, e não fisicamente, por robôs. Conforme a vida humana e seus registros acontecem cada vez mais por meio de processos digitais, essas discussões passam a ser de importância fundamental, pois a linha que separa os mundos ON e OFF line está cada vez mais difusa, em todas as dimensões.
#robos #consciência #autoconsciência #homemvsrobo #inteligênciaartificial #naturalvsartificial #hacker #segurança #identidade
Apesar de não ter sido o primeiro filme de sci-fi a apresentar robôs, naves espaciais, outros planetas e convívio com alienígenas, Star Wars se tornou um fenômeno de cultura popular mundial.
O universo do filme apresenta robôs, droids, inteligência artificial, naves espaciais, holografia, carros voadores, entre diversas outras tecnologias extremamente avançadas para a época.
A reflexão mais interessante do filme, no entanto, não é a tecnologia, mas os contrastes tecnologia/humanidade & high tech/low tech que apresenta. O tema central é o equilíbrio entre os lados negro e branco da Força, uma conexão espiritual entre os seres. Conexão e colaboração são algumas das principais habilidades para se atuar com sucesso em ambientes mais complexos, como o que vivemos hoje, devido às tecnologias digitais. Assim, Star Wars traz essa questão com décadas de antecedência. A conexão no universo ficcional de Luke Skywalker acontece principalmente por meio da Força, e não tecnologia. A colaboração acontece de forma multicultural, multiplanetária, multiespécie, incluindo robôs.
#robos #homemerobo #inteligênciaartificial #espiritualidade #ordemsocial #conexão #colaboração
Os filmes de Mad Max (tanto os 3 primeiros, dos anos 80, quanto o mais recente, de 2015), apresentam um futuro distópico pós-apocalíptico. A reflexão interessante que eles trazem é sobre como o mundo se reorganizaria sem a tecnologia existente e a ordem social estabelecida em sua função. Especialmente no 3o filme da série, Além da Cúpula do Trovão, a pessoa mais poderosa do mundo (papel de Tina Turner) havia sido uma prostituta antes do apocalipse. Apesar de se tratar de ficção, existem teorias de que civilizações poderosas do passado, como os Impérios Incas e Khmer, emergiram e caíram por questões tecnológicas. O poder que a tecnologia traz torna-se nulo quando ela desaparece ou se transforma. Em escala menor, esse processo tem se repetido durante todas as principais revoluções na história da humanidade, incluindo as 4 Revoluções Industriais – cada mudança de dominância tecnológica traz uma reestruturação social.
Outras obras de ficção que apresentam a mesma linha de reflexão são Robson Crusoé (livro, 1719), A Máquina do Tempo (filme, 1960), Planeta dos Macacos (filme, 1968), Jerico (série, 2006), Walking Dead (série, 2010) e R(e)volution (série, 2012), por exemplo.
#evoluçãohumana #apocalipse #ordemsocial
Apesar de ter sido um fracasso de bilheteria nos USA, Blade Runner tornou-se um clássico cult e é considerado um dos melhores filmes já feitos, tendo sido selecionado para preservação no National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos USA, por ser “culturalmente, historicamente o esteticamente significante”.
O filme é visionário em inúmeros aspectos tecnológicos, apresentando o uso de interfaces de voz, robôs humanoides (chamados de replicantes no filme), inteligência artificial, relação homem/máquina, clonagem e colônia extraterrenas. No entanto, as reflexões mais importantes estão relacionadas com os impactos dessas tecnologias no ser humano e na sociedade – moral, ética e busca de sentido para a vida. A coexistência de diversas culturas, etnias, credos e costumes decorrentes da globalização proporcionada pela tecnologia é uma das características marcantes presentes no filme, como um vislumbre dos dias atuais, em que isso tem se tornado um cenário social atual cada vez mais comum.
Outra questão central do filme são os replicantes, que são usados nas mais nocivas atividades (como os drones são utilizados hoje), trabalhos servis e de prazer, e as pessoas fazem com eles tudo aquilo que as fazem sofrer (como explorado amplamente em Westworld (2016), apresentado mais à frente). A autoconsciência em robôs, discutida por meio da replicante Rachel, foi tema central de diversos outros filmes e séries, como I, Robot (livro, 1950 e filme, 2004), 2001: uma odisseia no espaço (livro e filme, 1968), Stargate (série, 1997), Transcendence (2014), Automata (2014), Her (2013), ex-Machina (2015) e do brilhante Westworld (2016), entre outros.
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Originalmente, o Exterminador do Futuro foi uma sequência de 3 filmes – 1984, 1991 e 2003. Em 2009 e, recentemente, em 2015, foram lançados mais dois, mas com menor importância reflexiva. O segundo filme (Judgment Day), especialmente, é um marco em termos de efeitos especiais e criatividade em sci-fi, conseguindo, como poucas vezes na história, que uma continuação supere o sucesso do filme original.
Além de abordar temas tecnológicos de vanguarda, como viagem no tempo, robôs humanoides, inteligência artificial (Skynet) e realidade aumentada (olhos do exterminador) já no primeiro filme, em 1984, a reflexão principal que a série Exterminador do Futuro traz, na minha opinião, é sobre a internet descentralizada que, consequentemente, não pode ser controlada ou desligada, como discutido no Terminator 3 (Rise of the Machines, 2003).
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Todos os filmes da quadrilogia “Alien” (1979 a 1997) abordam temas interessantes sobre a evolução da tecnologia impactando a vida humana (como viagens espaciais, robôs, androides e encontro com vida extraterrena). O primeiro, de 1979, é um marco de terror no espaço. No entanto, gostaria de destacar o segundo filme, de 1986, “Aliens, o Regaste”, que é especialmente interessante pois apresenta, provavelmente pela 1a vez no cinema, um exoesqueleto humano, que é uma tecnologia cada vez mais real hoje.
As potencialidades de um exoesqueleto são inúmeras, abrangendo desde a restauração de funções motoras em deficientes físicos até a ampliação da capacidade humana em termos de força e velocidade, por exemplo. Nas cenas finais do filme, o exoesqueleto é essencial para o desfecho.
#robos #extraterrestres #viagemespacial #naves #exoesqueleto #androides
Conforme o mundo se digitaliza, passamos a existir cada vez mais como registros e dados computacionais. O que aconteceria se os nossos dados fossem manipulados para oferecer uma outra versão da nossa existência? Essa é a discussão que The Net traz nos anos 1990, a década em que a internet comercial começa a se esparramar pelo planeta. O filme explora o conceito de hackeamento de identidade por meio de manipulação de registros computacionais.
As reflexões levantadas no filme contribuem para compreendermos o processo da transformação digital do mundo, a mudança das regras do jogo da existência e do poder.
Outras obras que discutem a mesma temática, sob outros aspectos tecnológicos, são Metropolis (filme, 1927), Futurama (filme, 1976), The 6th Day (filme, 2000), Avatar (filme, 2009), Gamer (filme, 2009), entre outras.
Conforme a linha que separa os mundos ON e OFF line fica cada vez mais difusa, gradativamente vamos nos tornamos seres mais cíbridos, ou seja, híbridos do nosso corpo biológico e suas extensões digitais. Essa nova forma de “existir” traz novas formas de registro e validação pessoal, que ao mesmo tempo em que ampliam o nosso ser, também trazem desafios de segurança que podem nos colocar em risco. Dessa forma, torna-se cada vez mais necessária a discussão sobre o assunto, que o filme The Net apresenta já há duas décadas.
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Stargate foi um filme de 1994 que originou a série homônima lançada em 1997 e que durou até 2011. Tanto o filme, quanto a série, sugerem a influência alienígena em diversos aspectos da cultura e evolução humana (como em 2001: uma odisseia no espaço). No entanto, a principal reflexão da série é a importância da tecnologia como diferencial competitivo entre pessoas, nações e planetas, e as questões éticas que emergem do seu uso e poder.
Apesar de não contar com efeitos especiais impactantes, a série aborda ao longo das suas 10 temporadas diversas tecnologias e discussões sobre o seu impacto na sociedade, além de apresentar questões (como em Star Trek) sobre a convivência entre culturas, raças e crenças extremamente distintas e em estágios de evolução muito distintos. Buracos negros, viagem no tempo, robôs, replicantes, aceleração e desaceleração do tempo, comunicação cerebral, sustentabilidade, teleport, entre outras, são tecnologias e temas levantados e discutidos de forma muito didática e criativa.
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O nome do filme em si já faz referência ao seu tema principal: manipulação genética -- o DNA é composto de quatro bases: guanina (G), timina (T), citosina (C) e adenina (A). A possibilidade tecnológica para configurar o DNA dos filhos, escolhendo as suas características traz inúmeras reflexões sobre a humanidade e seu futuro, incluindo questões sociais e éticas. É interessante lembrar que o mapeamento do Genoma Humano foi anunciado em 2000, alguns anos depois do lançamento desse filme. O livro O Sol, o Genoma e a Internet (Freeman Dyson, 1999) complementa de forma interessante a discussão sobre o assunto, inclusive a clonagem humana. Um dos principais pontos referentes à manipulação genética é que como qualquer tecnologia, ela primeiro tende a estar disponível para quem tem dinheiro, o que possibilitaria que um grupo privilegiado de pessoas pudessem pular algumas etapas de evolução natural, enquanto outras não, e isso tenderia a causar tensões entre esses grupos no planeta.
Algumas obras subsequentes que discutem o assunto, focando em clonagem por diferentes ângulos são A Ilha (filme, 2005) e O 6o Dia (filme, 2000). O mesmo tema -- exploração da manipulação genética -- discutido de forma mais ampla e com ênfase nas suas consequências, já havia sido abordado anteriormente com bastante sucesso em Jurassic Park (filme, 1993).
* 10 coisas que você não sabia sobre GATTACA
#genetica #sentidodavida #sentidodehumanidade #podertecnologico #etica #naturalvsartificial #manipulacaogenetica #ludismo
Por volta do ano 2000, com a virada do século e o mapeamento do Projeto Genoma, diversos filmes sobre tecnologia e genética surgiram, como Gattaca, The Matrix, O 13o Andar, Xchange, O 6o Dia, AI, Minority Report, SimOne, Eu Robô, mas, um dos mais sensíveis certamente foi o Homem Bicentenário. Além de trazer discussões futuristas sobre a presença de robôs domésticos em nossas vidas e o impacto nas nossas relações, o filme nos brinda com reflexões sobre inteligência artificial, auto-consciência nas máquinas, homem vs robô, ampliando para grandes questões humanas sobre sentido da vida, criatividade, imortalidade e, principalmente, o que é ser humano. Conforme as máquinas permeiam a sociedade, uma das preocupações mais recorrentes é sobre o que nos distingue delas e o que nos torna verdadeiramente humanos. Essa é a vertente principal do filme.
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Matrix é um marco, tanto em termos de conteúdo, quanto de técnicas e coreografias cinematográficas. Lançado no cinema como uma trilogia (The Matrix, 1999 / Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, 2003), a reflexão central é a possibilidade de vivermos dentro de um universo computacionalmente simulado (questionamentos similares são levantados também nos filmes em Man In Black [https://www.youtube.com/watch?v=kL3SGR85ymY] e O 13o Andar) e a disputa homem x máquina (como em O Exterminador do Futuro).
Entre as diversas referências que o filme faz a outras obras (como, Alice no País das Maravilhas, por exemplo), destaco Simulacros e Simulação (livro, 1981) do filósofo francês Jean Baudrillard -- no filme de 1999, o personagem Neo esconde dinheiro e cópias de arquivos de computador dentro de um exemplar do livro, que defende que a proliferação de imagens na sociedade está substituindo toda a realidade e significado por símbolos e signos, e que a experiência humana é uma simulação da realidade. Simulacros são cópias que representam coisas que nunca existiram ou que não existem mais na realidade. Simulação é a imitação de algo ou processo existente no mundo.
Essa discussão, que permeia os três filmes na virada do século, torna-se cada vez mais atual. Hoje, ao mesmo tempo em que intensa digitalização social permite aprofundar e diversificar a comunicação e conhecimento, por outro lado, ela favorece também o fenômeno de geração de simulacros e simulações descrito por Braudillard. Assim, o distanciamento entre as coisas reais e a sua representação (simulacro) e a facilidade de imitação (simulação) que a tecnologia proporciona têm se ampliado a tal ponto, que podemos sugerir que isso impulsione processos de alienação.
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Indicado como melhor filme de ficção científica no prêmio Saturn Award for Best Science Fiction Film, The Thirteenth Floor perdeu para Matrix, que foi lançado no mesmo ano. Da mesma forma que uma década depois os filmes Avatar, Gamer e The Surrogates foram lançados muito próximos uns dos outros e discutem o tema “avatar” quase que simultaneamente, o mesmo acontece aqui com The Matrix e The Thirteenth Floor – o foco é a reflexão sobre a simulação computacional do mundo e das pessoas. Talvez, as principais influências para essa preocupação na virada do século tenha sido o início da aceleração tecnológica, avanço da internet e mapeamento do Genoma humano.
Além da abordagem bastante interessante sobre realidade virtual e simulação computacional que esse filme traz, ele apresenta também discussões relevantes sobre 1) vício em tecnologia e as suas consequências e, 2) existência de universos paralelos computacionalmente simulados. Outra questão interessante que permeia o enredo (e que está intimamente presente no atual Westworld) é a da consciência dos seres computacionais e a nossa própria consciência humana -- aqui, programas de computador, software, não sabem que são simulações e pensam que são seres humanos. No caso de Westworld, isso acontece com os robôs (hardware e software). Isso nos leva a refletir e ponderar sobre a nossa própria existência e o que é ser genuinamente humano.
O início da intensificação do processo de mudança do código do mundo (de analógico para cada vez mais digital) na virada do século provavelmente foi o gatilho para imaginarmos as possibilidades decorrentes dessa transformação que estávamos começando a viver e que se faz cada vez mais presente hoje.
#inteligênciaartificial #autoconsciência #sentidodehumanidade #ordemsocial #simulacao #simulacro #alienacao #viciotecnologico #universosparalelos #naturalvsartificial
O filme Piratas do Vale do Silício é baseado no livro Fire in the Valley: The Making of The Personal Computer (1984) e conta a estória do surgimento da Apple e Microsoft no Vale do Silício e como elas cresceram usando tecnologias pirateadas entre si e o Xerox Parc, um dos laboratórios tecnológicos mais criativos da época, responsável pela invenção do mouse, placa ethernet, interface gráfica (GUI), entre outras soluções que tornaram os computadores pessoais possíveis.
Bill Gates, Steve Jobs e Steve Wozniak são os protagonistas do filme junto com os demais jovens responsáveis na época pela criação e desenvolvimento do computador pessoal. Podemos dizer que eles estão para o computador pessoal assim como Alan Turing está para o computador de grande porte. A Microsoft de Gates e a Apple de Jobs são as empresas que lançaram as bases para o mundo digital que temos hoje, transformando mercados, sociedade e comportamentos humanos.
O computador de grande porte lançou bases isoladas para o processamento do mundo. O computador pessoal, somando-se à internet, não apenas o distribuiu na sociedade, como alavancou a comunicação para patamares que revolucionaram não apenas a tecnologia, mas também a cultura, em todos os níveis (pessoal, governamental, empresarial, social, computacional, etc.).
#computadorpessoal #apple #microsoft #stevejobs #billgates #stevewozniak #xeroxparc #valedosilicio #historia #mouse #GUI #ethernet
Takedown é baseado em fatos verídicos sobre a atuação e captura do hacker Kevin Mitnick nos anos 90 (hoje, ele é consultor de segurança digital). O tema principal do filme gira em torno das possibilidades do universo hacker e as reflexões motivacionais, conceituais e éticas relacionadas com o assunto. No entanto, o que torna esse filme particularmente interessante é ver como Mitnick usa de Engenharia Social para conseguir influenciar pessoas e atingir seus objetivos. Na área de segurança de sistemas, diz-se que o elo mais fraco na cadeia de segurança é o ser humano, e esse filme é uma aula sobre o assunto.
#hacker #cracker #segurancadainformacao #etica #controle #engenhariasocial
Tal como em Gattaca (1997), o tema central aqui é a manipulação genética humana, no entanto, enquanto no primeiro, o foco era na programação genética, aqui é na clonagem humana. Assim como em Gattaca, o nome do filme já anuncia a sua discussão principal, já que, segundo a Bíblia, o 6o dia é aquele em que Deus criou o homem.
Acredito que a reflexão interessante levantada por esse filme é o que eu chamo de “a consciência da cópia” – o clone pensa que ele é o original. Da mesma forma que em O 13o Andar e em Westworld, a criatura não tem ciência da sua real situação, o mesmo acontece aqui. Essa questão tende a ser cada vez mais relevante.
As tecnologias digitais aliadas à nanotecnologia e engenharia genética têm o potencial de ampliar a capacidade de digitalização para qualquer tipo de vida e, nesse sentido, a replicabilidade do ser passa a não ter mais limites, indo além da clonagem. Discussões envolvendo a ciência e consciência dos seres (naturais ou artificiais), e distinção entre natural e artificial, individual X coletivo, individual & coletivo, tornam-se cada vez mais essenciais para a nossa sobrevivência, lucidez e convívio social.
Outras obras que abordam essa questão da transferência de consciência são Transcendence (filme, 2014), Black Mirror/3/San Junipero (série, 2016), The 100 (série, 2014) e Travelers (série, 2016).
#genetica #clonagem #consciência #vidadepoisdamorte #individualvscoletivo #naturalvsartificial #manipulacaogenetica
Apesar do pouco sucesso desse filme, ele levanta reflexões interessantíssimas, mesmo que sejam apenas ficcionais. Toda a estória gira em torno de se fazer viagens instantâneas de um lugar para o outro por meio da troca de corpo com uma pessoa que esteja no local que se deseja ir. Ou seja, enquanto não é possível ser teleportado com o corpo todo, poderíamos transportar apenas a nossa “essência” para um corpo em outra localização. Assim, se preciso estar em New York em 10 min, troco de corpo com alguém que está lá, ao invés de gastar 10h viajando.
As mais diferentes discussões emergem desse processo: mercado negro de dispositivos de troca de corpos, como é estar em um corpo do sexo oposto ou de alguém que fuma?
#teleport #interfacesdevoz #consciência #clonagem #ordemsocial
Na mesma linha de O Homem Bicentenário (1999), AI reflete sobre a relação entre robôs humanoides inteligentes e a sua busca para se tornarem humanos. Apesar da abordagem tecnológica sobre inteligência artificial, robôs humanoides, consciência, autoconsciência, clonagem, o foco principal do filme é a discussão de questões humanas universais como amor, consciência, auto-consciência, ética, justiça, sentido.
Um paradoxo interessante presente no filme é que quanto mais inteligentes as máquinas ficam, mais elas buscam sentido na vida, e precisam dos humanos nesse processo.
A inteligência artificial faz parte cada vez mais dos processos ao nosso redor e é uma das principais tendências para o futuro na nossa coexistência com computadores e robôs. Assim, as reflexões apresentadas nesse filme do ano início do século, nunca foram tão atuais.
#robo #inteligênciaartificial #sentidodavida #sentidodehumanidade #etica #homemvsrobo #autoconsciência #interfacesdevoz #linguagemnatural #carrosvoadores #genetica #clonagem #vidadepoisdamorte #apocalipse
Inegavelmente, Minory Report foi um sucesso principalmente em função do universo tecnológico que vislumbrava no início do século, especialmente as interfaces touch e uso e análise de dados em tempo real. No entanto, acredito que o que torna esse filme extremamente marcante é a questão ética que ele aborda, tanto em função da tecnologia quanto nas relações humanas – podemos condenar uma pessoa antes de ela ter efetivamente cometido um crime? É correto escravizar pessoas (pre-cogs) para que façam previsões sobre crimes de forma a evita-los e salvarmos outras pessoas?
As tecnologias apresentadas no filme já estão, em sua maioria datadas e incorporadas no nosso cotidiano – interfaces touch são parte da maioria dos smartphones e tornaram-se comuns. O uso de big data é cada vez mais corrente e essencial. O grande diferencial que permanece são os impactos da tecnologia nas relações humanas e as questões éticas que eles suscitam.
#interfaces #bigdata #sentidodehumanidade #etica #ordemsocial
Simone, nome da protagonista do filme, é a abreviação de SIMulation ONE -- uma atriz criada por sistema de computador que atua com uma performance tão boa, que o mundo acredita que ela realmente existe. As tecnologias apresentadas -- simulação computacional, chroma key, holografia, vírus computacional -- são o pano de fundo que estrutura as reflexões principais do enredo: percepção, verdade ou mentira, natural ou artificial, homem vs computador, homem & computador, ética, criador vs criatura, simulações e simulacros tecnológicos. O filme é a versão moderna digital da mitologia grega de Pigmaleão temperada pelas reflexões de Simulacros e Simulação de Jean Baudrillard.
Pigmaleão, como descrito pelo poeta romano Ovídeo (Metamorfoses), era um rei de Chipre, que se apaixonou pela estátua que esculpiu quando tentava reproduzir a mulher ideal, e ela, então, ganhou vida. Essa ideia inspirou diversas obras, como a pintura de Jean-Léon Gérôme, Pygmalion and Galatea (1890, acervo do Metropolitan de NYC), a peça (1913) e o filme (1938) Pigmaleão de Bernard Shaw no início do século XX, culminando na sua aclamada adaptação, o musical My Fair Lady, que foi lançado na Broadway em 1956 e no cinema em 1964.
Baudrillard, por sua vez, em Simulacros e Simulação (1981) defende que a proliferação de imagens na sociedade está substituindo toda a realidade e significado por símbolos e signos, e que a experiência humana é uma simulação da realidade. Simulacros são cópias que representam coisas que nunca existiram ou que não existem mais na realidade. Simulação é a imitação de algo ou processo existente no mundo.
Esse foi um dos filmes precursores na discussão de um tema bastante em voga hoje: o amor por computadores, sistemas e dispositivos pessoais. Martin Lindstrom, em seu artigo de 2011 (http://www.nytimes.com/2011/10/01/opinion/you-love-your-iphone-literally.html), traz a provocação que argumenta que literalmente passamos a amar nossos iPhones. Posteriormente, o filme Her (2013) retoma essa temática, que promete ser uma das questões humanas mais discutidas nas próximas décadas, conforme computadores e assistente pessoais passem a popular cada ver mais nossas vidas, tornando-se nossos companheiros inseparáveis.
Outro questionamento importante levantado em SimOne é referente à relação tensa entre criador e criatura, quando a criatura ganha relevância maior que o criador. Essa característica é mais forte nos ambientes digitais, pois seres digitais têm a facilidade da propagação e simulação. Esse mesmo tema, associado com alienação popular midiática, é retomado no episódio 3 da 2a temporada de Black Mirror (2013) -- Waldo.
#simulacao #holografia #sentidodehumanidade #homemvsrobo #etica #ordemsocial #criadorvscriatura #segurancadesistemas #viruscomputacional
Baseado na obra I, Robot de Isaac Asimov, escrito em 1950 e inspirado no livro homônimo de 1939, de Eando Binder, o filme traz como reflexão principal a autoconsciência em robôs e seu relacionamento com os humanos, por meio das Leis da Robótica, que são três princípios idealizados por Asimov com o objetivo de controlar e limitar o comportamento dos robôs:
As principais reflexões do filme estão relacionadas, obviamente, com robôs – autoconsciência, inteligência artificial, homem vs robô, criador vs criatura. Esses mesmos questionamentos já aparecem em diversos filmes anteriores, como Blade Runner (filme, 1982), 2001: uma odisseia no espaço (livro e filme, 1968) e Stargate (série, 1997) e têm sido um assunto cada vez mais recorrente na literatura e cinema, permeando diversos filmes de ficção científica, conforme os robôs cotidianos passam a ser uma realidade cada vez mais iminente no mundo.
O filme também aborda uma questão que ganha cada vez mais destaque na ficção (aparece novamente também, por exemplo, no filme de 2008, Controle Absoluto) – a possibilidade de os computadores inteligentes deduzirem que os humanos são perigosos para si mesmos e para o planeta e quererem anular a humanidade.
Recentemente, obras como Transcendence (filme, 2014), Automata (filme, 2014), Her (filme, 2013), ex-Machina (filme, 2015) e o brilhante Westworld (série, 2016), têm aprofundado as discussões e ampliado sobre o assunto.
#evoluçãohumana #robos #consciência #autoconsciência #homemvsrobo #inteligênciaartificial #ordemsocial #controle #sustentabilidade
Levantando questões sobre a vulnerabilidade do mundo, conforme tudo passa a ser controlado cada vez mais por sistemas computacionais – governo, mercado financeiro, energia, etc. --, esse quarto filme da sequência “Duro de Matar” traz como reflexão central o ciberterrorismo e a segurança digital.
O filme foi baseado no artigo de John Carlin para a revista Wired, “A Farewell to Arms” (https://www.wired.com/1997/05/netizen-2/) de 1997, que defende que as armas de terrorismo da nova era são digitais, e que os Estados Unidos não estavam preparados para se defender nesse contexto.
A narrativa do filme apresenta discussões interessantes sobre o poder e importância dos hackers na nova ordem social e a mudança do polo de controle para aqueles que dominam códigos de programação. O filme aborda pontualmente também o poder da criação de simulações computacionais na mídia como instrumento de manipulação.
A temática central de controle do mundo por sistemas computacionais será tratada também no filme Eagle Eye no ano seguinte, 2008, mas sob outro ângulo – o da autoconsciência em computadores.
#ciberterrorismo #hackers #simulacao #segurancadigital #ordemsocial #controle
Da mesma forma que em I, Robot (2004), o tema central de Controle Absoluto é a autoconsciência em computadores/robôs e o conflito homem vs máquina, focando na discussão da possibilidade de os computadores inteligentes deduzirem que os humanos são perigosos para si mesmos e para o planeta e quererem anular a humanidade.
O filme aborda em paralelo questões relacionadas bastante pertinentes ao mundo digital como privacidade, segurança digital, controle e ética.
O livro Fortaleza Digital (1997), de Dan Brown, já discutia também vigilância e privacidade, tanto em termos de possibilidades técnicas quanto éticas, em um contexto cada vez mais digital.
#privacidade #inteligenciaartificial #segurancadigital #ordemsocial #controle #homemvsrobo #consciência #autoconsciência #etica
Muitos filmes de ficção científica retratam um cenário pós-apocalíptico revelando a preocupação humana com tal possibilidade propiciada pelo avanço tecnológico. Terminator (1984) e Blade Runner (1982) são exemplos notórios.
No caso de Wall-E, apesar de ser uma animação sobre robôs e humanos e apresentar diversas possibilidades tecnológicas, como naves espaciais e inteligência artificial, o foco central da narrativa é a reflexão sobre o impacto da tecnologia na vida humana, tanto em termos de destruição e sustentabilidade do meio ambiente, quanto da dependência humana. Esses dois questionamentos principais chamam a atenção na estória por meio de: 1) a atrofia corporal e dependência tecnológica dos humanos e 2) a preocupação com a recuperação do planeta, sustentabilidade.
#sustentabilidade #apocalipse #ordemsocial #dependênciatecnológica #sentidodavida #autoconsciência #consciência #automação #robo #inteligenciaartificial
Avatar foi um grande sucesso em 2009, mesmo ano em que foram lançados mais dois ótimos filmes com o mesmo tema, mas que não tiveram tanto sucesso: Gamer e Surrogates. Os três filmes discutem avatares, mas com perspectivas bastante distintas (ver comentários em cada um deles).
A estória em Avatar em si não tem muita novidade, dado que segue o mesmo modelo de Dança com Lobos, Pocahontas e Miss Saigon (Madame Butterfly). O mérito fica a cargo da criatividade da ambientação e discussão tecnológica. No caso de Avatar, apesar do tema central serem avatares, uma das reflexões mais interessantes que o filme traz é a conexão e colaboração entre os seres (representada pela ligação dos cabelos).
As tecnologias digitais permitem cada vez mais conexão e tendem a possibilitar a manipulação de outros corpos – tanto corpos tecnológicos literalmente (como em Avatar e Surrogates), quanto outras pessoas, corpos biológicos (tratado de forma excelente em Gamer). Além disso, as conexões tecnológicas nos levam para um cenário cada vez mais complexo, em que a interdependência é uma das principais características.
O termo “avatar” é oriundo do Hinduismo para descrever a descida de um ser divino à terra, em forma materializada. Assim, de forma ampla, um avatar é uma figura sem vida, habitada por uma entidade “superior” que o controla e anima. Por isso dizemos que as nossas representações dentro de jogos e redes sociais digitais são nossos avatares – somos o “ser” superior que o controla e dá vida a eles. Assim, usamos avatares para atuar e nos representar em outros mundos/contextos, que não podemos ou não desejamos habitar.
Conforme os ambientes digitais proliferam, somados às possibilidades de ampliação da representação física (robôs e drones controlados) ou digital (holografia) das pessoas, a discussão sobre avatares tende a se intensificar, inclusive os seus impactos éticos. O recente Eye In The Sky (filme, 2016), discute justamente a questão ética do uso de drones controlados remotamente para ataques anti-terroristas (ver na lista de filmes). Outra questão importante relacionada ao uso de avatares é a interface – é por meio dela que a transferência entre a entidade a representação acontece. No digital, a interface é o que ela apresenta.
#avatar #conectividade #interdependência #genetica #etica #sustentabilidade #apocalipse #mindinterfaces #interfaces #ordemsocial
Gamer foi lançado no mesmo ano que Avatar e Surrogates -- três filmes com temática sobre avatares. No entanto, enquanto nos dois últimos, a discussão tecnológica e filosófica gira em torno do uso de corpos artificiais como avatares para os humanos, em Gamer, a abordagem vai além, com a utilização de seres humanos como avatares controlados por terceiros. No filme, as pessoas “vendem” seus corpos para os que outros os controlem/utilizem ou, no caso de prisioneiros, eles são sentenciados a serem avatares para jogos de luta (daí o nome do filme).
Acredito que a reflexão mais interessante que esse filme traz não é apenas a questão do uso literal (stricto sensu) de pessoas como avatares, mas o domínio psicológico (lato sensu) que algumas pessoas exercem em outras, a tal ponto, que essas últimas passam a operar como avatares implícitos das primeiras, muitas vezes, sem perceberem.
Nesse sentido, a discussão vai muito além da tecnologia, tocando em questões profundas da existência humana e dos relacionamentos. A tecnologia, por sua vez, tem o potencial de intensificar o processo.
#avatar #etica #mindinterfaces #interfaces #ordemsocial
Surrogates é dos três filmes com temática focada em avatares lançado em 2009 (junto com Gamer e Avatar). Aqui, o uso tecnológico pelos humanos de corpos artificiais (avatares) para atuarem no mundo é usado como pano de fundo para a reflexão principal do filme: o que é realmente ser humano. A dependência tecnológica também é discutida, da mesma forma que em Wall-E (animação, 2008), pois, conforme os humanos passam a usar seus corpos tecnológicos para todas as atividades possíveis e imagináveis, eles acabam se descuidando dos seus corpos biológicos e relacionamentos face to face com esses corpos. Conforme vivemos em um mundo em que as experiências são cada vez mais interfaceadas por tecnologia, esses questionamentos vão ganhando mais relevância.
É interessante obeservar também no filme a existência de uma “resistência humana” contra o uso de corpos artificiais – esse mesmo tipo de resistência aparece em GATTACA (filme, 1997) contra o uso de manipulação genética para escolha das características dos filhos. Ambas resistências, aqui em GATTACA, estão intimamente relacionadas com a questão fundamental do que nos torna humano, homem vs máquina, natural vs artificial, resgatando referências Luditas.
#avatar #humanidade #homemvsrobo #naturalvsartificial #etica #relacionamento #ludismo #mindinterfaces #ordemsocial
Em 2010, dois filmes foram lançados tendo como tema principal a discussão de relacionamentos online – Chatroom e Trust. Ambos são excelentes nas reflexões que causam. No caso de Chatroom, o questionamento fica por conta da manipulação que algumas pessoas conseguem exercer sobre outras no ambiente digital, permitindo a criação de personagens com agendas específicas, que são usados como máscaras nesses ambientes – esse é o caso de William em Chatroom.
Conforme nossos relacionamentos são cada vez mais interfaceados por tecnologia, esse tipo de reflexão torna-se extremamente importante. Nas relações face a face, além do que é falado, recebemos diversos outros sinais não-verbais, responsáveis por mais de 70% da informação que constrói a comunicação. Essa dimensão não-verbal é muito enfraquecida nos ambientes digitais, dificultando o estabelecimento do processo de validação e confiança da informação. Somando-se a isso, nos ambientes presenciais, torna-se muito mais difícil de se manipular informações presentes na comunicação – por exemplo, uma pessoa de meia idade teria muito mais dificuldade de se passar por um adolescente no mundo presencial do que no ambiente online digital. Assim, habilidades como validação da informação e pensamento crítico são cada vez mais essenciais para sobrevivência no mundo, que é cada vez mais digital.
#validacaodainformacao #manipulacao #interface #pensamentocritico #etica #relacionamento #ordemsocial #socialnetworks
Na mesma linha de Chatroom, filme lançado no mesmo ano que Trust, o foco principal é questionar a confiabilidade das informações trocadas em relacionamentos nos ambientes digitais e os impactos intensos que esses relacionamentos podem causar nas vidas das pessoas.
Enquanto em Chatroom o desfecho está associado a suicídio, em Trust a reflexão fica por conta do assédio sexual e pedofilia praticados por pessoas que se passam por pares da mesma idade.
No caso de Trust, é interessante observar, ainda, a evolução do relacionamento digital entre Anne e Charlie até o ponto em que se encontram pessoalmente.
Apesar das questões de validação da informação e pensamento crítico serem inerentes a qualquer tipo de relacionamento, muito antes do digital ou de qualquer interfaceamento tecnológico, elas se agravam no ambiente digital, pois a validação torna-se mais difícil nesses ambientes que nos anteriores.
#validacaodainformacao #manipulacao #interface #pensamentocritico #etica #relacionamento #ordemsocial
Além de ser uma série com uma produção impecável, o grande mérito de Downton Abbey aqui é mostrar a transformação econômica e social que a tecnologia trouxe no início do Século XX, mais notavelmente, a eletricidade, o telefone e o carro. Após a introdução de cada uma dessas tecnologias, foi necessário um período de compreensão e experimentação para que elas realmente desempenhassem os seus papeis econômico-sociais. A eletricidade precisou de 30 anos para ser compreendida e utilizada como instrumento de transformação de modelos de negócios – um papel muito maior do que o inicialmente imaginado. Essa mesma reflexão pode ser usada para pensarmos nas transformações que as tecnologias digitais estão causando mundo hoje -- o que importa não são as tecnologias, mas como elas mudaram totalmente o mundo e a civilização.
Assim, a pergunta que fica aqui é: como as tecnologias digitais estão nos transformando e mudando o mundo, da mesma forma que as tecnologias mecânicas e de comunicação do século passado mudaram a ordem econômica e social de então?
Todos os filmes apresentados nesse texto tentam responder exatamente essa pergunta.
#ordemsocial
Black Mirror é uma série britânica antológica lançada em 2011, que discute os impactos inesperados das tecnologias digitais em nossas vidas futuras. Na minha opinião, é a melhor obra em conjunto de reflexão distópica sobre o assunto. Acredito que o grande mérito de Black Mirror é justamente tentar explorar os impactos não antecipados, ou seja o lado B (lado negro, black), das tecnologias emergentes em nossas vidas. Isso é particularmente importante, porque tendemos a enxergar inicialmente apenas os efeitos previstos de cada tecnologia, negligenciando os efeitos colaterais das mesmas. No entanto, toda e qualquer tecnologia quando entra na sociedade, pode trazer impactos tanto positivos quanto negativos.
As duas primeiras temporadas (2011 e 2013) tiveram três episódios cada, mais um episódio especial em 2014. Em 2015, a Netflix comissionou mais 12 episódios – os 6 primeiros foram lançados como 3a temporada da série em 2016. A linguagem usada é orgânica, fazendo com que qualquer discussão apresentada (em muitos casos, beirando a insanidade) pareça natural e parte da vida cotidiana.
Cada episódio discute um impacto tecnológico distinto:
The National Anthem (Ep 1, temp 1) – novas possibilidades de atentados e manipulação midiática por meio das mídias sociais
Fifteen Million Merits (Ep 2, temp 1) - alienação tecnológica e preconceito
The Entire Story of you (Ep 3, temp 1)- memória digital em humanos & implantes tecnológicos
Be Right Back (Ep 1, temp 2) - clonagem & robôs
White Bear (Ep2, temp 2) - novas formas de prisão e punição tecnológica
Waldo (Ep 3, temp 2) – simulação, alienação e manipulação midiática
White Christmas, edição especial de 2014 - interfaces cerebrais
Nosedive, Ep1, Temp 3 - tirania das avaliações sociais e desumanização
Playtest, Ep 2, Temp 3 - interfaces cerebrais & simulações
Shut Up and Dance, Ep 3, temp 3 - hacking & privacidade
San Junipero, Ep 4, Temp 3 - vida eterna com transferência computacional
Men Against Fire, Ep 5, temp 3 - manipulação por meio de wearables
Hated in the Nation, Ep 6, Temp 3 - segurança em drones & manipulação por meio de mídias sociais
#ordemsocial #privacidade #segurancadainformacao #manipulacao #interfacescerebrais #wearables #vidaeterna #hacking #drones #socialmedia #humanratings #alienacao #etica #memoriadigital #genetica #clonagem #robos #simulacao #sentidodehumanidade #criadorvscriatura #segurancadesistemas
Como dizia Henry David Thoreau, o preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que trocamos por aquilo. O filme In Time usa como estrutura narrativa exatamente esse conceito – no futuro, todos os seres humanos nascem equipados com um dispositivo que mede a quantidade de vida que o indivíduo tem, e essa é a moeda para todas as transações que ele executar na vida. Todos os pagamentos e recebimentos são feitos em tempo de vida. Assim, quem é rico tem milhões de anos de vida em estoque e pode viver quase que eternamente. Os pobres correm o tempo todo para conseguir mais tempo.
São necessárias algumas licenças poéticas para apreciar o filme (como o fato de apenas encostar os braços já ser suficiente para transferir vida de uma pessoa para a outra, sem nenhum dispositivo de segurança, senhas, nada). No entanto, as reflexões que surgem desse cenário são excelentes. Por exemplo, a dinâmica de pagar tudo em unidades de vida, apresentada de forma literal e explícita no filme, é, em algum grau, o modo como pagamos qualquer coisa, de forma implícita, em nossas vidas. Por exemplo, quando pago R$ 100,00 por algo, na realidade estou pagando com a quantidade de tempo que tive que trabalhar para ganhar R$ 100,00. Assim, se demoro uma hora para ganhar essa quantia, quando compro algo por esse valor, estou pagando com 1h da minha vida.
Outras questões interessantes que o filme levanta estão relacionadas à manipulação do mercado (que no caso, tem como unidade “anos de vida” – para “sustentar” o sistema, a maioria da população não pode ter “vida”); vida eterna & sentido da vida (no filme, algumas pessoas que têm centenas de anos de vida restantes preferem morrer); ritmos de vida (pessoas ricas, que têm estoque ilimitado de anos, só morreriam por acidente, assim, elas fazem tudo em um ritmo bem lento e seguro – as pessoas pobres, que têm pouco tempo de vida, fazem tudo rapidamente). As questões fundamentais que ficam são: se você tivesse todo tempo do mundo, o que faria com a sua vida? Como? Qual o sentido e objetivo da vida eterna? Esse tema dialoga profundamente com reflexões de outras obras fundamentais, como no livro “As Intermitências da Morte” (2005), de José Saramago, e as previsões de James Burke sobre um cenário futuro em que se o objetivo humano não precisa mais ser a sobrevivência, qual será?
Essas reflexões são cada vez mais essenciais para a humanidade, pois com a penetração e disseminação das tecnologias digitais em nossas vidas e a evolução acelerada das possibilidades tecnológicas de extensão de habilidades biológicas e prolongamento indefinido de vida (wearables, nanotecnologia, clonagem, implantes, sensores, etc.), a promessa da vida eterna, sem morte, está cada vez mais próxima para os humanos.
#ordemsocial #privacidade #segurancadainformacao #manipulacao #wearables #vidaeterna #hacking #etica #sentidodehumanidade #segurancadesistemas
Sem Limites aborda um dos temas mais fascinantes da humanidade: o cérebro humano e suas potencialidades. O neurocientista Norman Weinberger diz que “compreender o cérebro nos permitirá entender o que verdadeiramente nos torna humanos”. (http://www.livescience.com/4583-greatest-mysteries-brain-work.html).
O corpo humano, incluindo o cérebro, é uma máquina extraordinária que se reconfigura conforme as suas necessidades – isso acontece tanto de forma involuntária quanto intencional.
De forma voluntária, por exemplo, podemos fortalecer nossos braços fazendo exercícios físicos, modificando os nossos músculos para podermos usá-los de modo mais eficiente. Por outro lado, durante o processo de evolução, o nosso corpo tem se ajustado sem a nossa interferência voluntária, como, por exemplo, o tamanho do cérebro, cor da pele (pessoas que moram em lugares com menos sol são mais claras, menos necessidade de proteção), altura, etc. Algumas especulações preveem que nas gerações futuras, os dedos mindinhos do pé e os dentes do siso tenderão a desaparecer, pois não os utilizamos mais. Dessa forma, temos a capacidade de programar e alterar algumas partes do nosso organismo, mas não temos poder sobre outras.
Um dos principais sonhos humanos, que está se estruturando por meio da engenharia genética, é conseguir entender, programar e expandir as nossas habilidades, facilitando as configurações do que já conseguíamos fazer com esforço (como exercícios físicos, dietas, bronzeamento, etc.), e acessando as que não tínhamos controle, como o cérebro, cor da pele, envelhecimento, entre outras. Dentre todas as possibilidades de otimização funcional, o cérebro, nosso controle-central, é a meta mor, e essa é a temática desse filme, Limitless.
A crença de que usamos apenas uma pequena parte do nosso cérebro é um mito, pois, na realidade, as pessoas já usam o todo o cérebro (comprovado por scans cerebrais). O que não conseguimos ainda usar e controlar deliberadamente é o acesso às nossas memórias no hipocampo, e esse é o verdadeiro caminho para ampliar a nossa capacidade cerebral. Estudos recentes da neurociência têm focado em drogas que melhorem a criação e acesso às memórias cerebrais, e essas drogas têm o potencial de criar efeitos similares aos do filme.
Posteriormente, em 2014, o filme Lucy foi lançado com a mesma temática discutindo o poder do cérebro, e provavelmente veremos cada vez reflexões sobre o assunto, conforme a ciência avança nessa direção.
#cerebro #evolucao #enhancedhuman #manipulacao #wearables #vidaeterna #hacking #etica #sentidodehumanidade #smartdrugs
Você já deve ter ouvido alguém reclamar que baseball é um jogo de estatísticas e que isso não tem graça. Na realidade, esse é um comentário interessante, pois, cada vez mais, todo tipo de esporte será assim e, talvez, a “graça” passe a ser a disputa de insights estatísticos combinados com talentos humanos.
Esse filme, Moneyball, tem uma importância significativa no cenário digital atual pois mostra as origens desse processo, que é o que hoje chamamos de “big data”. A narrativa é baseada em fatos verídicos que mudaram o modo como se escala e se joga baseball no mundo.
Em 2002, o técnico do time Oakland Athletics, Billy Beane, com o auxílio de um jovem matemático, passou a fazer as escalações baseando-se em análises estatísticas das performances dos seus jogadores, e não no jogador em si, como era feito tradicionalmente. É interessante notar a resistência encontrada por Billy para conseguir implementar essa nova metodologia, pois isso é equivalente aos processos de resistência que são encontrados hoje à aplicação de tecnologias digitais nas organizações.
Da mesma forma que é possível se escalar melhor um time com apoio computacional para tomada de decisões, pode-se usar a mesma metodologia para se escalar qualquer outro time, inclusive de colaboradores de uma organização. Cada vez mais o sucesso depende de tecnologia, pois a inteligência coletiva alavancada pelos processos computacionais é maior do que a maior inteligência humana individual.
#bigdata #ordemsocial #inteligenciacomputacional #baseball #gestaodepessoas
Da mesma forma que Mad Max 3 (1985), Walking Dead (2010) e vários outros filmes/séries anteriores, R(e)volution apresenta um futuro distópico que a humanidade enfrenta após um desastre tecnológico repentino, que nesse caso é um blackout mundial que teria ocorrido em 2012.
No entanto, o destaque para a série deve-se às reflexões relacionadas à inteligência artificial e possibilidades de auto-organização computacional que se apresentam, além da discussão óbvia sobre a nova ordem social e política mundial resultante de um mundo sem eletricidade.
#evoluçãohumana #apocalipse #ordemsocial #inteligenciaartificial
Apesar de Prometheus ter sido dirigido pelo aclamado Ridley Scott (de sucessos como Alien e Gladiador), o filme foi um fracasso de bilheteria e crítica. No entanto, é uma obra bastante interessante para a nossa discussão aqui: o impacto das tecnologias na humanidade. E é justamente isso que torna o filme Prometheus importante – não a sua qualidade narrativa ou artística, mas a reflexão argumentativa sobre a origem da humanidade. É sabido que apenas uma ínfima fração do genoma separa o corpo humano dos outros animais, e nesse sentido, um questionamento interessante que o filme levanta é se isso não seria verdade também para formas de vida alienígenas, em outros planetas, ou seja, talvez tenhamos muito mais parentes no universo fora da Terra.
Em 2011, pesquisadores da NASA encontraram fortes evidências [https://www.nasa.gov/topics/solarsystem/features/dna-meteorites.html] de que alguns dos blocos constitutivos do DNA (molécula que carrega as instruções genéticas para a vida) foram criados no espaço. Mais recentemente, as pesquisas nessa direção têm proliferado [https://www.newscientist.com/article/mg22730330-800-what-if-we-came-from-space/] ampliando as reflexões fundamentadas no filme.
#evoluçãohumana #apocalipse #ordemsocial #inteligenciaartificial #genetica #DNA #viagensespaciais
As inúmeras revelações do Wikileaks desde a sua fundação em 2006, foram um awakening mundial sobre o poder que as tecnologias digitais têm em impactar tanto a transparência informacional, quanto a privacidade. Antes das revelações que tornaram o Wikileaks famoso, as pessoas apenas imaginavam possibilidades de monitoramento da informação mundial que, eventualmente, as agências governamentais, jornalistas investigativos ou hackers teriam acesso. Após os vazamentos do Wikileaks, o mundo passou da imaginação para a comprovação, por meio de volumes enormes de documentos que têm se tornado público, levantando discussões acaloradas e pendulares entre transparência informacional, direitos individuais, segredos, privacidade, valores éticos, segurança, entre outros. Vazamentos informacionais ocorrem desde os primórdios dos tempos, mas a vulnerabilidade da informação no ambiente digital potencializa profundamente não apenas o acesso, como, principalmente, a disseminação rápida de grande volumes, exercendo um enorme poder social, daí o título do filme, sugerindo que a internet é o 5o poder. Apesar de variações de origem, o termo “Quarto Poder” tem sido usado de forma geral para descrever o poder regulador necessário para evitar o abuso do poder, como contraponto aos três poderes do estado (legislativo, executivo e judiciário) – esse contra-poder tem sido o papel da imprensa, que é alavancado, hoje, pela internet. O poder das mídias tem aumentando gradativamente no último século, fortalecendo-se tanto, que além de cumprir a sua função de contra-poder, adquiriu também o poder de manipulação social. Dois filmes interessantes sobre esse tema, sob o aspecto de manipulação e de contra-poder, são “Mad City” (filme, 1997) e “The Forth State” (filme, 2012), respectivamente.
O filme “O Quinto Poder” mostra o processo de criação e desenvolvimento do Wikileaks, apresentando as motivações de Julian Assange, por um lado, e as suas consequências, boas e ruins, por outro. A importância da obra é justamente causar um processo reflexivo essencial para a humanidade, pois o Wikileaks foi precursor de uma nova dinâmica informacional mundial, que já resultou em outros “leaks”, como o caso de Edward Snowden & NSA (2013) e Panama Papers (2015), e tem o potencial de gerar muitos mais.
Outros filmes na mesma linha que “O Quinto Poder” são “We Steal Secrets”(documentário Wikileaks, 2013), “Citizen Four”(documentário sobre os leaks Snowden, 2014) e Sknowden (filme, 2016). Ampliando o tema para vigilância e questões de privacidade, existem inúmeras outras obras dialogando com o assunto, como Eagle Eye (filme, 2008) e Duro de Matar 4.0 (filme, 2007).
#ordemsocial #transparenciadigital #segurancadigital #etica #wikileaks #privacidade
As inúmeras revelações do Wikileaks desde a sua fundação em 2006, foram um awakening mundial sobre o poder que as tecnologias digitais têm em impactar tanto a transparência informacional, quanto a privacidade. Antes das revelações que tornaram o Wikileaks famoso, as pessoas apenas imaginavam possibilidades de monitoramento da informação mundial que, eventualmente, as agências governamentais, jornalistas investigativos ou hackers teriam acesso. Após os vazamentos do Wikileaks, o mundo passou da imaginação para a comprovação, por meio de volumes enormes de documentos que têm se tornado público, levantando discussões acaloradas e pendulares entre transparência informacional, direitos individuais, segredos, privacidade, valores éticos, segurança, entre outros. Vazamentos informacionais ocorrem desde os primórdios dos tempos, mas a vulnerabilidade da informação no ambiente digital potencializa profundamente não apenas o acesso, como, principalmente, a disseminação rápida de grande volumes.
Esse documentário independente cobre várias décadas e inclui um material de apoio considerável para traçar a estória do Wikileaks, de seu fundador, Julian Assange e das pessoas envolvidas na coleção e distribuição de informações e arquivos secretos pelos delatores.
Outros filmes na mesma linha são “O Quinto Poder” (filme, 2013), “Citizen Four”(documentário sobre os leaks Snowden, 2014) e Sknowden (filme, 2016). Ampliando o tema para vigilância e questões de privacidade, existem inúmeras outras obras dialogando com o assunto, como Eagle Eye (filme, 2008) e Duro de Matar 4.0 (filme, 2007).
#ordemsocial #transparenciadigital #segurancadigital #etica #wikileaks #privacidade
Downloaded é um documentário que mostra a estória do Napster como instrumento disruptor da indústria da música. Apesar do Napster ter sido fechado, o seu lançamento desencadeou o processo de disrupção que continuou com outros players, como Kazaa, seguido por BitTorrent, e muitos outros sistemas de compartilhamento de arquivos.
A lógica da indústria da música (como várias outras, incluindo a editorial), era centralizada e dependia de um processo hierárquico de produção e distribuição em larga escala. Após a internet, e mais especialmente, os sistemas P2P (peer to peer), como o Napster, a lógica de consumo e distribuição de conteúdos passa a ser distribuída e horizontal, minando a estrutura pré-estabelecida de direitos autorais e intermediários no processo.
A importância desse documentário reside exatamente na reflexão sobre a transformação que um processo disruptivo pode causar em indústrias fortíssimas e bilionárias, reorganizando o mundo.
Para aqueles que quiserem aprofundar a reflexão sobre as diferenças de modelos e consequências entre estruturas centralizadas e distribuídas, recomendo a leitura do livro “The Starfish and the Spider” (Ori Brafman & Rod A. Beckstrom, 2008).
#musicindustry #napster #sharingeconomy #naspter
“Her”, na minha opinião, é um marco divisor dos filmes que discutem a relação homem-computador. Aparentemente o foco da narrativa é o amor entre um humano (ele, Theodore) e um sistema operacional/computador (ela, Samantha), passando por todas as nuances emocionais do desenvolvimento da relação, como acontece normalmente nas relações humanas. Esse tema já foi abordado em filmes anteriormente em algum grau, como em SimOne (filme, 2002), e mesmo outras obras, antes da era do cinema. No entanto, o que torna “Her” especial é ir além, refletindo sobre a evolução do sistema operacional como se ele fosse uma pessoa, humano, do seu nascimento à sua libertação, colocando, de uma forma lúdica, o questionamento: será que nós, humanos limitados, não ficaremos desinteressantes para os computadores conforme eles se tornem superiores? Reflexões homem vs máquina são comuns em filmes desde cinema mudo, como em Metropolis (1927). No entanto, ao invés de apresentar a clássica versão de futuro distópico de guerra humano-computacional, Her aborda a relação sob outro ângulo, de forma suave, deixando uma reflexão de desapego-dependência bastante profunda e aberta para exploração.
Dessa forma, outro questionamento evidente que o filme é a escala crescente de dependência tecnológica que se estabelece na humanidade conforme os devices de nossas vidas se tornam mais inteligentes.
#amorporcomputador #homemerobo #homemvsrobo #ordemsocial #sentidodavida
Por um lado, as tecnologias digitais facilitam o compartilhamento e vazamento de informações governamentais e corporativas, como testemunhamos nos eventos noticiados do Wikileaks, Snowden e Panama Papers. Por outro, essas mesmas tecnologias também permitem a coleta de uma infinidade de informações pessoais dos indivíduos por meio do seu comportamento online -- seja quando fazem compras, instalam aplicativos, brincam com um quiz de personagens ou concordam com termos de uso. Cada transação digital gera informação.
Toda vez que usamos um serviço digital, assinamos um contrato digital concordando com os termos de uso, que muitas vezes incluem a nossa concordância para que possam utilizar nossas informações para finalidades diversas. Portanto, a utilização de qualquer serviço digital está “sujeita a termos e condições”.
A análise dessas informações, de forma individual ou coletiva (para detecção de padrões), proporciona um grande poder de manipulação social, que é a temática desse documentário. Além de entrevistas com personalidades como Mark Zuckerberg e Ray Kurzweil, o filme aborda a questão do uso de informações por governos e corporações, como Facebook, Google e LinkedIn.
#seguranca #privacidade #controle #segurancadainformacao #manipulacao
Automata é um daqueles filmes que não se tornam blockbusters, mas talvez devessem. Na mesma linha de Westworld (filme, 1973 e série, 2016), o filme explora o surgimento (não programado) da autoconsciência em robôs e discute elegantemente a questão primordial da relação humano-computador: o futuro da humanidade será guerra ou colaboração entre moléculas e bytes?
#homemerobo #homemvsrobo #ordemsocial #autoconsciencia
Transcendence, na minha opinião, é um dos mais interessantes trabalhos de reflexão sobre as possibilidades (iminentes) do ser humano transferir-se para um computador e, assim, ter vida eterna, na forma digital. Um dos grandes méritos do filme é conduzir a discussão sobre o assunto de modo que, ao mesmo tempo em que direciona a narrativa, deixa a conclusão aberta para gerar considerações interpretações individuais.
A temática dialoga com outras obras, como Black Mirror (série, episódio San Junipero, 4a temporada, 2016) no que se refere à transferência em si, e com Her (filme, 2013) no que se refere à evolução de um “ser computacional”. Por outro lado, enquanto em Homem Bicentenário (filme, 1999) e AI Inteligência Artificial (filme, 2001) vemos o computador buscando a humanidade, em Transcendence e Black Mirror, a perspectiva é na direção inversa, ou seja, o humano buscando sua digitalização, no entanto, preservando sua essência.
#homemerobo #homemvsrobo #ordemsocial #vidaeterna #digitalizacao
Além da importância estratégica e histórica dos primeiros usos do computador para a humanidade, esse filme é particularmente interessante porque apresenta em um blockbuster uma das pessoas mais importantes (se não a mais importante) por detrás da evolução computacional em que vivemos hoje: Alan Turing. O que era de conhecimento apenas de um nicho de profissionais (normalmente relacionados com a área da computação), passa a ser difundido por meio do cinema para o grande público.
Um outro aspecto de vital valor desse filme é mostrar a grande injustiça social que Alan Turing sofreu por ser homossexual. Ele é um dos muitos exemplos históricos da vilanização de indivíduos brilhantes que deveriam, na realidade, serem heroificados, mas que, por incompreensão social e medo causados pela ignorância da maioria, são esmagados pelo sistema. Eu chamo esse processo de “síndrome de Geni”, que retrata na ficção (música de Chico Buarque de Holanda) esse processo, que infelizmente é recorrente na humanidade: marginalizar os diferentes quando eles ameaçam o status-quo, mas usá-los quando eles podem “salvar a pátria”, para, depois de tudo resolvido, marginaliza-los novamente. Essa reflexão, por si só, na minha opinião, já vale o filme. Estamos vivendo uma era marcada por liberdade de expressão confundida, erroneamente, com liberdade de agressão; conflito confundido com confronto. Ao mesmo tempo em que temos todo o potencial e meios para a abraçar a diversidade, estamos nos tornando mais intolerantes. Apesar de termos cada vez mais ferramentas para nos conectar e compreender, temos usados esses recursos para nos isolar e julgar.
#ordemsocial #etica #historia #computador
Enquanto em We Steal Secrets (documentário, 2013) e The Fifth State (filme, 2013) é retratada a trajetória do Wikileaks e de seu fundador, Julian Assange, o documentário Citizen Four relata a publicação de informações de vigilância global da NSA (agência de segurança nacional dos Estados Unidos), protagonizada por Edward Snowden em junho de 2013. [https://pt.wikipedia.org/wiki/Edward_Snowden]
As tecnologias digitais têm propiciado novas formas de se monitorar e propagar informações, potencializando ambos os processos. Nesse contexto, discussões sobre o equilíbrio entre segurança & privacidade tornam-se cada vez mais necessárias na busca de garantir a ética e os direitos individuais das pessoas. O assunto é bastante complexo, pois, o ato de se revelar uma informação, tornando-a pública, pode, ao mesmo tempo, atender (transparência) e comprometer (privacidade) os direitos dos indivíduos/cidadãos. Nesse sentido, esse documentário, e as demais obras sobre o tema, são instrumentos valiosos para a compreensão das transformações no mundo por meio das tecnologias digitais, para que possamos discutir amplamente os caminhos éticos que desejamos e precisamos construir para o futuro.
Em 2016 foi lançado outro filme sobre o assunto, “Snowden”, e provavelmente, veremos surgir cada vez mais obras discutindo tópicos relacionados com as questões éticas relacionadas à utilização das tecnologias digitais.
#ordemsocial #transparenciadigital #segurancadigital #etica #wikileaks #privacidade #seguranca
Do mesmo diretor de Downloaded (filme, 2013), Alex Winter, o filme Deep Web foca nos eventos relacionados com o fechamento do site Silk Road (uma espécie de eBay da deep web) e a prisão do seu fundador, Ross Ulbricht. Em Downloaded, a discussão gira em torno da revolução digital na música e suas consequências no mundo. No documentário Deep Web, o olhar é mais embaixo, voltando-se para o submundo da internet, narrado por Keanu Reeves.
A importância fundamental desse documentário é a propagação de entendimento sobre o funcionamento da deep web e dark web, agregando conceitos emergentes que potencializam as transações nesse ambiente, como o Bitcoin, e a discussão sobre o seu impacto social.
Os conteúdos da web que são acessíveis por meio de buscadores, são chamados de Web Visível (ou Surface Web) que, apesar de ser a porção mais conhecida da web, é a sua menor parte. A grande maioria dos conteúdos da web não são indexáveis pelos buscadores, ou seja, não podem ser “enxergados” por eles, pois suas páginas não existem até serem criadas dinamicamente como resultado de uma busca específica ou porque são entradas de bancos de dados. Essa parte não-indexável da web é chamada de Deep Web (ou Web Invisível) e tem tamanho muito maior do que a Web Vísivel – ambas podem ser representadas como um iceberg, em que o topo visível é muito menor do que a parte submersa.
Como toda tecnologia no mundo, a Deep Web traz vantagens e desvantagens para quem a acessa, ou, em outras palavras, a priori, ela não é nem boa e nem ruim – o seu valor depende do uso. Por conter entradas de bancos de dados acadêmicos e uma infinidade de informações valiosas que não conseguem ser indexadas pelos buscadores da web, a Deep Web proporciona o acesso a um conteúdo riquíssimo, inacessível de outra forma. Por outro lado, devido à dificuldade de se monitorar conteúdos que não podem ser indexados, tornando-se muito mais difícil de serem encontrados, a Deep Web também atrai atividades que tenham afinidade com essa situação, especialmente as ilegais (venda de drogas, contrato de assassinos de aluguel, etc.). No entanto, essa característica “camufladora” da Deep Web pode favorecer não apenas ações criminosas, pois pode propiciar também um canal poderoso de informação e sobrevivência para pessoas que vivem em regimes opressores ou restritivos, permitindo que fujam de filtros governamentais e censuras.
De qualquer forma, existem riscos ao se acessar a Deep Web, pois é sempre possível entrar inadvertidamente em algum território ilegal (acesso a banco de dados que violem as leis) ou se tornar vítima de alguma ação criminosa, por meio de contração de vírus computacional, por exemplo.
Muitas vezes, erroneamente, a Deep Web é confundida com a Dark Web, no entanto, são dois conceitos totalmente distintos. A Dark Web é uma pequena parte da Deep Web que não pode ser acessada de forma tradicional – ela existe nas darknets, camadas de redes sobrepostas que utilizam a internet pública, mas requerem o uso de software, configurações ou autorizações de acesso específicos, como, por exemplo, o TOR (The Onion Router).
Conforme essas plataformas e esses protocolos penetram gradativamente no funcionamento da sociedade, eles começam a ser discutidos mais e mais na ficção, como é o exemplo do episódio 13 (Bitcoin for Dummies) da 3a temporada da série Goodwife, em 2012, e mais recentemente, a série Travellers (2016), em que toda a comunicação dos agentes do futuro acontece por meio da Deep Web.
#ordemsocial #etica #transparenciadigital #bitcoin #seguranca #silkroad
Apesar desse filme mostrar o estado da arte em tecnologia de drones – utilizando os mais diversos formatos (de avião a inseto) e seus modos de uso para espionagem e artilharia--, o tema central gira em torno da ética na sua utilização. Acredito que seja essa a sua grande contribuição reflexiva.
Os dispositivos móveis controlados remota ou computacionalmente (conhecidos como drones), estão barateando cada vez mais e tornando-se objetos de desejo. No entanto, as implicações da utilização desses tipos de dispositivos são enormes, tanto para o bem, quanto para o mal, e precisam ser discutidas e negociadas socialmente, pois afetam diversos âmbitos do atual ecossistema mundial. Isso é de vital importância, pois quando qualquer agente (tecnológico ou não) entra em ecossistema desequilibrando o seu funcionamento, esse tende a reagir para se reequilibrar e, quando não consegue, sucumbe. Além da questão levantada no filme sobre o aspecto ético do uso de drones em situação de espionagem, contra-terrorismo e guerra, outras implicações, como privacidade e sustentabilidade, também precisam ser abordadas e discutidas:
#drones #etica #homemvscomputador #sustentabilidade #ordemsocial #privacidade #transparenciadigital #seguranca
Conforme a inteligência artificial tem se tornado uma realidade cada vez mais possível em virtualmente todos os aspectos da vida humana, sentimos o crescimento da inquietação social sobre a emergente relação homem/computador por meio do aumento da quantidade de filmes que abordam essa temática. Apesar dessa discussão não ser novidade no imaginário humano e remontar ao início do cinema (como em Metropolis, 1927), agora, com o desenvolvimento tecnológico vertiginoso das últimas duas décadas, vemos os elementos computacionais que populavam apenas a imaginação, passarem a habitar realmente nossas vidas. Estamos passando do estado gasoso das ideais para o estado sólido das suas concretizações. Inteligência artificial e seres cíbridos (híbridos de corpos biológicos e digitais) são realidade, e precisamos compreende-la para coexistirmos com seus novos elementos. Toda tecnologia traz consigo tanto bênçãos como maldições, o único modo de abraçarmos as primeiras e evitarmos as últimas é conhecendo e compreendendo as suas facetas. Essa preocupação se reflete na frase que abre o trailer de ex-Machina:
Apagar a linha entre homem e máquina
é obscurescer a linha entre homens e deuses.
(To erase the line between man and machine
is to obscure the line between men and gods.)
Na mesma direção que Westword (filme, 1973 e série, 2016), Automata (filme, 2014) e Morgan (filme, 2017), entre outros, o filme ex-Machina explora o surgimento da autoconsciência em robôs, discutindo a sua relação com os humanos. Além das reflexões que o filme trás, os efeitos especiais (que lhe renderam um Oscar nessa categoria) são um show a parte.
#robos #consciência #autoconsciência #homemvsrobo #inteligênciaartificial #naturalvsartificial #ordemsocial
Mr Robot, na minha opinião, é uma das obras mais interessantes sobre a transformação do mundo por meio das tecnologias digitais, pois ao invés de focar nas tecnologias em si, ela discute a transformação social que as tecnologias causam, as mudanças do polo de poder e riqueza, e as possibilidades sociais que apresentam.
A terra era a matéria prima da economia agrícola e o ferro, da economia industrial. Dados são a matéria prima da economia digital, e é no seu domínio que passa a residir o poder.
Uma questão que é representada de forma brilhante no filme é o “Digital Divide” – aqueles que sabem programar e conhecem a nova lógica digital do mundo têm cada vez mais poder, enquanto que aqueles que continuam pensando e agindo apenas como usuários desse mundo, tornam-se vulneráveis e manipuláveis. Dessa forma, acredito que essa série é essencial tanto para se entender a transformação digital do mundo, quanto das empresas e das pessoas, mostrando a necessidade da “Educação Digital” como capacidade básica fundamental para se atuar no contexto do mundo atual, tecnológico e digital.
#ordemsocial #educacao #hackers #seguranca #privacidade #etica #democracia #economia #digitaldivide #datadivide
Sense8 é uma série criada pelas irmãs Wachowski, conhecidas também pelo grande sucesso de uma das suas obras anteriores, The Matrix (filme, 1999). Diferentemente de The Matrix (em que estruturação narrativa é intimamente ligada à tecnologia e à relação homem/máquina), Sense8, a priori, não tem nada a ver com tecnologia. No entanto, na minha opinião, um conceito principal une as duas tramas: a conexão humana.
Em The Matrix, os humanos encontravam-se conectados por meio de tecnologia, perdendo a sua essência para o sistema, e assim, precisaram se desconectar das máquinas para conseguirem se conectar novamente, como humanidade. Já em Sense8, o processo de conexão humana não está relacionado com tecnologia, mas é apresentado como uma evolução biológica (dialogando bastante com as discussões sobre mutações genéticas, que acontecem em obras como X-Men, Jumper, Heroes, etc.) que nos liga intimamente com outros indivíduos, de forma a nos fundirmos com eles, em termos de pensamentos, sentimentos, cognição e habilidades. Nesse sentido, as reflexões provocadas pela narrativa, nos remetem às relações de conexões com avatares, como em Avatar, Gamer e Surrogates. No entanto, a conexão proposta em Sense8 vai além, e acredito que é exatamente por isso que essa série é bastante importante para refletirmos sobre a evolução humana potencializa pelas tecnologias digitais.
Com o avanço tecnológico veio também o aumento da conexão e da complexidade no planeta. Mais recentemente, com o desenvolvimento de nanotecnologia, genética e biotecnologia, as possibilidades de conexão humano/humano e humano/computador têm aumentado consideravelmente. Esse processo de aumento da ligação humana por meio da digitalização do ambiente requer que pensemos os aspectos mais básicos da nossa existência – o que é ser humano, as diferenças entre nós, individual e coletivo, etc. Nesse sentido, Sense8 é um excelente exercício de reflexão sobre a evolução humana em um contexto cada vez mais conectado e complexo. A tecnologia não potencializa apenas a sharing economy, mas também, e principalmente, a sharing humanity.
Uma frase, dentre as inúmeras inspiradoras da série, nos instiga a pensar especialmente em uma das transformações imediatas de uma realidade de indivíduos isolados para uma de seres “fundidos”: “Matar é fácil se você não consegue sentir a dor do outro.
#ordemsocial #etica #conexao #genetica #evolucaohumana #complexidade #sharingeconomy #humanity #privacidade
A série WestWorld tem as suas raízes no filme homônimo de 1973, em que o tema central são os robôs e a sua utilização como lazer e entretenimento para os humanos em um parque de diversões ambientado no velho oeste (WestWorld).
Apesar da estrutura da narração ser a mesma e a discussão da relação homem vs robô ser dominante tanto no filme como na série, os focos de reflexão são distintos. No filme em 1973, o questionamento principal reside no controle (ou a sua falta) dos robôs – um mal funcionamento faz com eles ataquem os humanos. Já na série, em 2016, a reflexão dominante fica por conta do desenvolvimento da autoconsciência nos robôs, que faz com que eles, eventualmente, se rebelem contra os humanos. A diferença é sutil, mas fundamental em termos de discussão e possibilidades de evolução.
Westworld tem inúmeras similaridades narrativas estruturais com Jurassic Park (1993), filme produzido 20 anos depois, ambientado em um parque de diversões populado por dinossauros. Nos dois filmes, os seres que compõem o parque (robôs ou dinossauros) são artificialmente criados pelo homem (recriação genética e engenharia) e fogem ao controle humano causando uma catástrofe.
#robos #consciência #autoconsciência #homemvsrobo #inteligênciaartificial #naturalvsartificial
Nerve é um filme, mas poderia ser um episódio na série Black Mirror, que discute os impactos inesperados das tecnologias digitais em nossas vidas.
O filme explora de maneira muito interessante as possibilidades de manipulação e gamificação da sociedade por meio do uso das tecnologias digitais e sociais, que no limite podem anestesiar e desumanizar. Alienação em grupos de indivíduos não é novidade na sociedade, no entanto, o poder de amplificação dessa alienação propiciado pelas tecnologias leva a questão para outro patamar de importância. O valor de Nerve reside justamente nessa discussão.
#ordemsocial #manipulacao #gamificacao #socialmedia #humanratings #alienacao #etica #sentidodehumanidade #seguranca
Lo and Behold é um documentário delicioso de assistir. A narrativa navega desde os relatos e fatos que datam do início da internet no mundo até os dias atuais, pontuando e discutindo os seus efeitos na vida humana sob os mais diversos ângulos.
O título do documentário, “Lo and Behold”, é uma expressão na língua inglesa usada para chamar a atenção para algo, significando “olhe e veja!” (look and see), e acredito que seja realmente esse o objetivo a que o filme se propõe – instigar para ver além do que se olha. O foco não é apenas a tecnologia em si, mas a transformação que ela causa e pode causar no mundo e os seus efeitos. Assim, além da discussão sobre robôs, internet das coisas e inteligência artificial, também é tratada, por exemplo, a questão de pessoas que são alérgicas às frequências tecnológicas emitidas no mundo hoje e a sua consequente dificuldade em sobreviver nesse novo contexto que emergiu da conexão. A obra conta também com entrevistas e depoimentos de cientistas e empreendedores visionários que compartilham suas visões sobre o assunto. Vale conferir.
#ordemsocial #seguranca #robos #iot #inteligenciaartificial #alergia #direitoshumanos
Morgan, como vários outros filmes e séries, explora os limites entre homem e máquina, levantando questionamentos sobre poder, ética, essência humana, ordem social, livre arbítrio, brincar de Deus, etc. A narrativa dialoga com 2001 Space Odyssey (filme, 1968), I, Robot (filme, 2004), Transcendence (filme, 2014), Automata (filme, 2014), Her (filme, 2013), ex-Machina (filme, 2015), Westworld (série, 2016), entre outros.
As reflexões que o filme apresenta sobre como convivemos com robôs humanoides é bastante rica – O fato de um robô “parecer” humano afeta a nossa percepção sobre a sua condição computacional? Todos os robôs são iguais, ou cada um desenvolverá sua própria identidade, assim como acontece com o ser humano ao longo da vida? Se o robô adquire consciência, no que ele se diferencia de um humano? Vida gerada vs criada – diferenças e consequências? Futuro tecnológico utópico ou distópico? Esperança ou terror? Ou um pouco de cada?
A questão da “moral’’ da inteligência artificial, que o filme também aborda (quando Morgan passa a decidir o que fazer, baseada na moral humana, mas interpretando-a de forma diferente), tem ressonância com o tema central da 3a temporada de The 100 (série, 2014), discutindo uma guerra entre duas inteligências artificias, misturadas com consciências humanas. Apesar dessa série (The 100) ter limitações de qualidade (em minha opinião), os argumentos que traz são bastante interessantes para refletir sobre o mundo digital – transferência de consciência humana para o computador, mistura de códigos genético humano e binário computacional, moral da IA, distopia pós IA, etc.
Um fato interessante sobre Morgan é que uma das suas versões de trailer foi desenvolvida pelo Watson, o sistema inteligência artificial da IBM. Enquanto um trailer criado por humanos leva de 10 a 30 dias, o Watson precisou apenas de 24h. Compare as versões:
Trailer oficial: veja no início dessa página
Versão criada pelo Watson em 24 horas:
#evoluçãohumana #robos #consciência #autoconsciência #homemvsrobo #inteligênciaartificial #ordemsocial #controle #sustentabilidade
As inquietações -- sociais, econômicas e humanas -- que emanam da realidade tecnológica emergente, em que os limites entre homem e máquina estão se dissolvendo, compõem a temática dominante do filme Ghost in the Shell. O filme é baseado no universo ficcional da franquia de mídia homônima japonesa [link: https://en.wikipedia.org/wiki/Ghost_in_the_Shell], que iniciou com a publicação de mangas em 1989 e, desde então, contou com dois filmes homônimos (1995 e 2004), animações, além de série de televisão (ver a seguir manga, filme de 1995 e série de TV).
O título dá tom: ghost refere-se à alma humana que permanece no cérebro biológico transplantado em um corpo (shell, casulo) cibernético para gerar um “ser híbrido superior”. Um dos argumentos do filme é justamente que o cérebro humano comandando um corpo robótico traria a melhor combinação possível entre humano+computador, e seria o caminho da nossa evolução. Apesar de eu acreditar que essa lógica de evolução é falha (pois a hibridização tecnológica tende a acontecer também no cérebro), o filme vale a pena pelos questionamentos que levanta em torno da relação entre humanos e tecnologia: poder, ética, essência humana, ordem social, livre arbítrio, brincar de Deus, etc. A narrativa lança mão de tecnologias emergentes de forma criativa e bastante aderentes ao contexto apresentado, apresentando um ótimo exercício de reflexão sobre as possibilidades de um mundo digital – holografia, telepatia por meio de interfaces brain-to-brain, capas de invisibilidade, “enhanced humans”, redes neurais mistas humano-computador, ciberterrorismo, brain hacking & segurança cognitiva, transferência de consciência humana para o computador, entre outros.
As frases filosóficas da franquia são um show de reflexão a parte, o ponto alto da obra, na minha opinião. Algumas das minhas favoritas:
“Nos apegamos às memórias como se elas nos definissem, mas elas não nos definem. Aquilo que fazemos, e não as nossas memórias, define quem somos”. –Dr. Ouelet
“Se uma proeza tecnológica é possível, o homem fará. É quase como se isso estivesse programado na essência do nosso ser.” – Major
“Tudo é informação. Mesmo uma experiência simulada ou um sonho é simultaneamente realidade e fantasia. De qualquer modo que você olhe, toda a informação que uma pessoa acumula durante toda a sua vida é apenas uma gota no oceano [informacional]”. – Batou
“Não existe nada mais triste do que um fantoche sem alma. Especialmente aqueles que têm sangue correndo dentro deles”. – Batou
“Podemos argumentar que o DNA nada mais é do que um programa projetado para se auto preservar. A vida tem se tornado mais complexa no oceano esmagador de informação. E a vida, quando organizada em espécies, confia nos genes para serem o seu sistema de memória. Assim, o homem é um indivíduo apenas por causa da sua memória intangível... e a memória não pode ser definida, mas ela define a humanidade. O advento dos computadores, e o consequente acúmulo incalculável de dados, deu origem a um novo sistema de memória e pensamento paralelo ao nosso próprio (biológico). A humanidade subestimou as consequências da computerização.” – Puppet Master
Levando-se em conta que uma entidade (“ghost”) incorporada em um recipiente (“shell”) é a definição de um avatar, a narrativa de Ghost In The Shell dialoga com outras obras que navegam nessa temática, como Avatar (filme, 2009), Gamer (filme, 2009), Surrogates (filme, 2009). Outras discussões têm pontos de contato com Transcendence (filme, 2014), ex-Machina (filme, 2015), entre outros.
#evoluçãohumana #robos #consciência #segurancacognitiva #homemvsrobo #homem&robo #ciborgue #inteligênciaartificial #ordemsocial #controle #sustentabilidade #sentidohumano #braintobrain #enhancedhuman #holografia #cibridismo #redesneurais
Blade Runner 2049 apresenta de forma bastante coerente a evolução do clássico que lhe deu origem — Blade Runner (1982) — e navega no mesmo universo ficcional, desvendando a trama iniciada anteriormente. No entanto, apesar de ser um filme que prende a atenção e tem uma ótima narrativa de entretenimento, traz poucas adições reflexivas sobre o nosso futuro com as máquinas. O único elemento inovador — e bastante provocativo — que vale o filme todo é a introdução da possibilidade de humanos e máquinas poderem se reproduzir, como uma espécie híbrida. Esse “detalhe” da trama traz consigo infinitas outras questões subliminares, que nos transportam para outros patamares de pensamento e elevam a obra à mesma categoria da sua antecessora original. Primeiro, considera as máquinas como realmente “seres conscientes completos” no mesmo nível que o ser humano, a ponto de ser possível a procriação híbrida. Segundo, traz a tona as inúmeras possibilidades quanto à proliferação de inúmeras novas espécies híbridas no planeta, como trato no meu livro “Você, Eu e os Robôs”
#futuro #futurodahumanidade #inteligenciaartificial #androids #gynoids #humanidade #hibridizacao #homem-maquina #etica
Ok, Black Mirror (2010), WestWorld (2016), ex-Machina (2015), Ghost in the Shell (2017) são excelentes para refletirmos sobre as tecnologias emergentes. Mesmo o novo Blade Runner 2049 (2017) traz elementos novos que merecem louvor. No entanto, na minha humilde e modesta opinião, Altered Carbon é o “Blade Runner” do século XXI, pois o seu enfoque é muito mais amplo, complexo e inovador do que qualquer outra série ou filme que tenha se proposto a refletir sobre a era digital. Sim, a trama traz referência a muitas coisas do passado, como a troca de corpos que já estava presente em X-Change (2000) e enredo que envolve detetives e androids, como no Blade Runner original de 1982. No entanto, o elemento inovador dessa série é a sua abordagem.
Apesar de discutir maravilhosamente a tecnologia emergente — inteligência artificial, trans-humanismo, avatares, robôs, etc — a genialidade fica por conta da discussão da relação entre a humanidade e a tecnologia. Enquanto a narrativa apresenta a convivência homem-tecnologia de forma bastante natural, evoluindo com seus prós e contras, por outro lado discute a transformação da humanidade pelo poder que a tecnologia traz a quem tem acesso a ela, mais especificamente, a possibilidade da imortalidade. A morte nivela a humanidade — ricos e pobres, bons e maus, artistas, intelectuais, reis, operários, etc. — ela limita o poder e a dor e renova os seres humanos no planeta. Por mais poderoso que alguém seja hoje, ainda assim, deixará de existir em algum momento. Mas como evoluiríamos se pudéssemos vencer a morte? Vale muito a pena assistir e refletir cenários possíveis nessa jornada que Altered Carbon nos leva.
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A questão da possibilidade de "apagamento" de identidades que ANON apresenta não é nova — já foi discutida, de forma inovadora, em filmes mais antigos como A Rede (1995). No entanto, ANON traz a discussão para outro patamar, apropriando-se das possibilidades (oportunidades e ameaças) que as tecnologias digitais emergentes apresentam, incluindo a questão essencial de privacidade e segurança, ampliando a abrangência e complexidade das reflexões para o bio hacking.
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Uma das maiores aspirações humanas é a vida eterna — a morte e a deterioração biológica são a nossa tragédia fundamental. Esse tema transcende os filmes de sci-fi, contaminando outras áreas de ficção, misticismo, religião.... Filmes de vampiros, deuses, vida após a morte, etc, trazem essa inquietação. No entanto, mais recentemente, com os avanços tecnológicos e novas possibilidades emergentes para bio hacking e evolução do transhumanismo, a vida eterna tem se tornado algo que está saindo da ficção para se tornar realidade. Assim, inúmeros filmes têm abordado esse assunto de formas criativas e instigantes, como é o caso de O Preço do Amanhã (2011), Transcendence (2014) e Altered Carbon (2018), entre outros. Cada um desses filmes traz uma abordagem distinta e criativa para vencermos ampliarmos o prazo de validade humano, e discute aspectos distintos dos efeitos colaterais decorrentes dessa nossa ânsia de vencer a morte. OTHERLIFE é mais um exemplo brilhante disso, com abordagem extremamente criativa do uso da tecnologia não apenas para estender a vida mudando a percepção do tempo (algo similar ao loop temporal usando em A Origem, de 2010), como também, e principalmente, permitindo a criação de novas e infindáveis realidades dentro da mesma vida. Vale cada minuto ;-)
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Poucas obras conseguiram sensibilizar as pessoas tanto quanto O DILEMA DAS REDES. Inúmeras obras anteriores já discutiam o contexto de vigilância e manipulação que o ambiente digital favorece, como THE NET (1995), GATTACA (1997), SIMONE (2002), EAGLE EYE (2008), CHATROOM (2010), CONFIAR (2010), O QUINTO PODER (2013), TERMS AND CONDITIONS MAY APPLY (2013), EYE IN THE SKY (2015), e, mais recentemente, ANON (2018), THE GREAT HACK (2019) e REDE de ÓDIO (The hater, 2020).
Talvez o grande impacto desse documentário venha da forma com que foi realizado — ele entrevistou engenheiros, executivos e idealizadores das grandes empresas de tecnologia que fornecem os serviços que usamos todos os dias, como o Google, o Facebook, o Instagram, o Youtube, o Pinterest, o Twitter, etc., e eles são unânimes ao afirmar que o uso de redes sociais é prejudicial para os indivíduos, que são utilizados como “produtos” para atender aos interesses de anunciantes que “compram” a nossa atenção. Para tanto, esses aplicativos manipulam a realidade de cada usuário, criando um “Mundo de Truman” personalizado que te induz a se comportar como desejado por eles.
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Essa série apresenta aspectos supreendentes e intricados sobre como somos conectados. Os episódios compõem um documentário em que o jornalista científico Latif Nasser investiga as formas dessa conexão que transcende a existência humana, se estendendo por toda a natureza.
Especialmente os episódios Monitoramento e Dígitos são essenciais para compreender a importância e profundidade dos processos de conexão e como as tecnologias digitais amplificam essas questões.
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Uma das ferramentas mais poderosas para transformar a humanidade é a edição genética, que passa a ser possível por meio do CRISPR — você pode deletar um gene, adicionar um novo, ativar genes mortos e até mesmo controlar com o comportamento de um gene.
Esse documentário da série excelente série Explained da Netflix apresenta o funcionamento do CRISPR, suas potencialidades e riscos — por meio de discussões com especialistas na área são levantadas questões debatendo se esse é um grande feito científico ou um experimento social aterrorizante.
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O assunto de transferência de humanos para o mundo digital não é novo, tendo sido abordado em obras anteriores como Black Mirror (episódio San Junipero) e Transcendence (filme), por exemplo. No entanto, com o avanço tecnológico, o tema está cada vez mais em alta.
No entanto, a série Upload é particularmente significante, porque discute novas dimensões da possibilidade de passarmos a viver de forma digital, como a questão legal da realização da transferência, dos custos para manter um ser humano “vivendo” no digital, os padrões de vida digital, upgrades, mercado negro de features, entre outros.
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O interessante nessa série de ficção científica não é tanto a tecnologia em si, mas os efeitos que a possibilidade de viver para sempre podem causar na humanidade. Na mesma linha de “O Preço do Amanhã” e “Altered Carbon” (e futuramente Upload), a discussão aqui tem foco na humanidade.
AdVitam se passa em um mundo futuro onde as doenças foram erradicadas e, com uso de uma tecnologia especial, a população consegue se manter jovem e saudável para sempre. O diferencial dessa série são as questões que levanta, por exemplo, se vivemos eternamente:
- gostaríamos de exercer uma mesma atividade profissional durante toda a vida? Ou mudaríamos a cada 30 ou 40 anos?
- gostaríamos de ficar com o mesmo parceiro para sempre?
- quanto mudaríamos de personalidade conforme vivemos mais?
- como fica a relação com filhos?
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