[Entrevista] Martha Gabriel fala sobre empreendedorismo e capacitação

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Martha Gabriel
por Martha Gabriel, 9 de outubro de 2015 11:21

– Um pouco da sua história

Martha Gabriel – Engenheira, com pós graduação em Marketing e Design, mestrado e doutorado em artes. Escritora, artista, consultora, professora, pesquisadora, curiosa, curiosa, curiosa. Eterna aprendiz. Paixão por viver e experimentar o desconhecido – viagens, comidas, conceitos, pontos de vista, etc. Acredito em Deus, educação, amor, trabalho e na lei do retorno. Amo minha família. Valorizo mais a intensidade da vida do que a sua duração. Não fiz ainda tudo o que gostaria, mas já fiz muito mais do que imaginaria: se eu morresse hoje, confesso que vivi 😉

– Pra você o que é empreender?

Martha Gabriel –Para mim, empreender é o movimento gerado pela insatisfação com o status quo, nos levando a buscar novos caminhos e soluções – é a força motriz da evolução da humanidade. Tudo o que o homem construiu no mundo até hoje é resultado de um ato inicial de empreendedorismo – fogo, carro, avião, computador, etc. Sem empreender, o homem estaria ainda vivendo em cavernas. Assim, creio que empreender é toda ação na tentativa de mudança para progredir, por isso, o empreendedorismo é a essência da inovação, que busca criar valor no mundo. O empreendedorismo é a alavanca que transforma o potencial latente da criatividade em inovação efetiva aplicada.

É importante ressaltar, no entanto, que toda inovação é resultado do empreendedorismo, mas nem todo empreendedorismo resulta em inovação. O risco é inerente ao processo de empreender, e onde existe risco, existem também erros e fracassos. Portanto, empreender tem sempre duas faces: a insatisfação com o status-quo e o risco da mudança. Dessa forma, o empreendedorismo é certamente um antídoto para a acomodação, mas não necessariamente uma receita garantida para o sucesso. Por isso, normalmente o empreendedorismo acontece quando a motivação pela mudança é maior do que o medo dos seus riscos.

– Com certeza podemos te considerar uma empreendedora de sucesso. Mas lógico que todos possuem desafios na jornada. Pra você, qual foi o maior desafio encontrado até hoje como empreendedora? 

Martha Gabriel –Gestão dos negócios é o maior desafio para mim, por isso valorizo tanto gestores que mantém o negócio rodando. Eu sou atraída pelo novo, pelo desafio, pelo risco, pela experiência diferente. No entanto, depois que consigo realizar aquilo que me desafiava, fico entediada e tenho dificuldade em me satisfazer com a rotina de manter o negócio e, então, já busco o novo outra vez – o meu norte é o novo, é isso que me motiva. No entanto, a sustentabilidade do negócio depende da sua manutenção, geração de valor e continuidade: depende da sua gestão, não da sua criação ou conquista apenas. Para solucionar isso, tenho pessoas maravilhosas trabalhando comigo e que são ótimos gestores, complementando o meu perfil nas minhas debilidades. Essa é a maravilha da entidade “empresa” – nós, como seres humanos somos limitados em nosso próprio potencial e nossas deficiências, mas como empresas podemos virtualmente ampliar infinitamente esse potencial e diminuir drasticamente as deficiências, por meio de colaboração e integração de habilidades humanas.

– Como podemos definir inovação?

Martha Gabriel – Inovação é o resultado de uma AÇÃO que torna algo em NOVO, gerando VALOR para algum público específico. É muito interessante como o termo “inovação” é extremamente mal interpretado. Muitos pensam que inovar é fazer algo totalmente novo, disruptivo, que não existia anteriormente. No entanto, inovar pode ser pequenas ações que causam pequenas transformações (tornando novo) e que gerem algum resultado que crie valor para alguém. Por exemplo, se um funcionário de uma empresa resolve se demitir e montar uma loja de doces, isso é uma ação de inovação, pois tende a gerar valor para essa pessoa e os públicos envolvidos, mesmo que o ato de se demitir de uma empresa e montar uma loja de doces não seja nenhuma ação inédita e super criativa, ou mesmo, muito complexa. Inovação tem a ver com geração de valor por meio de uma nova ação (que pode ser produto, processo, modelo de negócios, etc.) e não com ineditismo. Assim, qualquer pessoa ou empresa, por menor que seja, tem o potencial de inovar sempre.

– Inovação ainda é um termo fora do cotidiano de milhões de pequenos empresários. Como é possível inovar mesmo sendo pequeno?

Martha Gabriel – Acredito que a questão da inovação não está ligada a tamanho, mas a educação e cultura. Tanto que existem pequenas empresas que são muito mais inovadoras que grandes – as startups são prova disso. Penso que a única forma de inovar, sendo pequeno ou não, é se educando e criando uma cultura de inovação. Estive recentemente no EmTech Digital do MIT e uma das questões discutidas lá era justamente porque alguns países são mais inovadores do que outros, sendo que muitos países têm acesso aos mesmos recursos e tecnologias que têm o potencial de alavancar a inovação. A conclusão é que onde existem pessoas mais educadas (que são mais bem preparadas para saber como tirar proveito do que o ambiente apresenta) em locais que possuem cultura de inovação em seu DNA (empresas como Google, Facebook, Apple, 3M, GE, etc., ou países e regiões, como Alemanha, Vale do Silício, Israel, Cingapura, etc.), a inovação acontece. Por outro lado, em locais em que não existe educação e cultura de inovação, o processo de inovar é muito mais difícil e lento. Essa mesma relação pode ser aplicada nas empresas – aquelas que possuem hoje o melhor capital humano e desenvolvem uma cultura de inovação têm maior probabilidade de inovar do que aquelas que não têm isso. O Disney ensina que “Cultura=Comportamento; Comportamento=Resultados; portanto, Cultura=Resultados”.

Creio que um dos grandes problemas no Brasil hoje, em relação à inovação, é que não temos, de modo geral, uma educação de excelência e nem um processo educativo que desenvolva uma cultura de inovação. Como diz o Clemente da Nóbrega, o Brasil não possui um sistema operacional que favoreça a inovação. Assim, creio que para termos empresas inovadoras, precisamos educar e nos desenvolver para isso.

– Falando sobre aprendizado e capacitação, o que alguém que quer  empreender precisa?

Martha Gabriel –Acredito que existem 4 P’s para o sucesso empreendedor: Propósito (objetivo), Preparo (educação), Planejamento (método) e Persistência (resiliência). Sem propósito, não existe razão para empreender – é do propósito que nasce qualquer ação empreendedora. No entanto, não adianta se ter propósito apenas – é preciso preparo (educação) para transformar o propósito em planejamento (método) adequado para coloca-lo em ação que gere resultados. Por outro lado, sabemos que não existe empreendedorismo sem riscos e sem problemas: eles são partes integrantes de qualquer empreendimento novo. Para superar os riscos e obstáculos, é necessário Persistência (resiliência).

É interessante ressaltar, no entanto, que o mundo está ficando cada vez mais complexo e, nesse cenário, torna-se cada vez mais fácil se ter Propósitos do que conseguirmos os demais P’s. Ambientes complexos, como o mundo hoje, são repletos de estímulos que fomentam ideias e propósitos, no entanto, a complexidade crescente traz consigo uma multiplicidade de disciplinas necessárias para se implementar soluções (Preparo e Planejamento), fazendo com que precisemos cada vez mais buscar colaboração para conseguir empreender com sucesso. A colaboração também favorece a Persistência para se fazer os ajustes necessários nos demais P’s, conforme o processo evolui.

Entrevista publicada originalmente no Startupi e Digitalks.

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