A computação cognitiva é o próximo grande passo da humanidade que pode transformar a vida na Terra de forma tão ou mais profunda do que o fogo ou a Revolução Industrial.
Também conhecida por Inteligência Artificial, a computação cognitiva é a terceira onda computacional da história humana – a primeira foi a computação de tabulação (1900), seguida da computação programática (1950) e estamos vivendo hoje o início da disseminação da computação cognitiva (CC), em que o computador não apenas executa comandos programados pelo ser humano, mas vai além, passando também a “pensar”.
Apesar de parecer novo, o conceito de computação cognitiva remonta ao século passado, e diversos livros e filmes de ficção que populam o imaginário coletivo abordaram o tema — desde os livros Eu Robot, 2001 Uma Odisséia no Espaço e os filmes Blade Runner, Terminator, AI, Matrix, SIMONE, Eagle’s Eyes até os mais recentes filmes Her e Transcendence. A questão do computador poder “pensar” como um humano tem levantado ódios e paixões ao longo da história. Ao mesmo tempo em que a CC tem um potencial inigualável de nos permitir superar as limitações dos nossos cérebros e expandir para um progresso gigantesco, ela também traz em si a possibilidade de um futuro imprevisível em que eventualmente as máquinas “pensantes” poderiam superar e subjugar os homens . De uma forma ou de outra, parece que o processo é irreversível e que em poucos anos estaremos vivendo em um ambiente computacional cognitivo. Segundo Rodrigo Kede, presidente da IBM Brasil, em 10 anos veremos na área de CC o mesmo progresso e maturidade que alcançamos nos últimos 10 anos na área de mídias sociais.
Os campos de aplicação da CC abrangem virtualmente todas as áreas de conhecimento: saúde, educação, transporte, habitação, lazer & entretenimento, artes, marketing, business, etc. Uma das primeiras demonstrações do potencial desse tipo de tecnologia foi apresentado em 1996, quando um computador venceu pela primeira vez um campeão de xadrez (Deep Blue vs Kasparov), e mais recentemente, o sistema WATSON, que em 2011 venceu os dois melhores jogadores humanos do jogo Jeopardy, conquistando um prêmio de US 1 milhão[2]. Hoje, o sistema Watson tem sido utilizado na área médica auxiliando os médicos no tratamento de doenças como o câncer, no estudo do genoma e personalização de tratamentos.
Juntamente com a evolução técnica da CC, temos presenciado nos últimos anos o surgimento de um fenômeno inédito na história da humanidade: o big data. Associando-se o potencial da primeira a esse último, a possibilidade de análises e obtenção de soluções inteligentes por meio da CC são ilimitadas. Nunca na história da humanidade gerou-se tantos dados sobre tudo (volume), provenientes de tantos dispositivos e fontes distintas (variedade), em uma velocidade tão grande (velocidade). Segundo Kede, 90% dos dados existentes no mundo hoje foram gerados nos últimos 2 anos e 80% são dados não–estruturados. No entanto, de nada adianta termos essa infinidade de dados se não conseguirmos extrair valor e veracidade deles. Ferramentas de computação tradicional não são capazes de lidar com o big data, mas a CC encontra no big data o paraíso para florescer.
Os processos de CC “aprendem” com os dados, e quanto mais dados e variedade, mais o sistema aprende. Nesse contexto, tive a oportunidade de vivenciar uma experiência de CC em tempo real na IBM recentemente (tks Mauro Segura pelo convite), com foco em análise de sentimentos do jogo amistoso Brasil x Panamá no dia 3/junho. O sistema FAMA, desenvolvido pela equipe de pesquisas da IBM Brasil sob o comando de Claudio Penhanez totalizou a análise de aproximadamente 335000 tweets postados durante o jogo (ver foto a seguir). Além de redes neurais, o FAMA processa os tweets por meio de deep learning, um algorítimo que permite o aumento da precisão da análise para níveis equivalentes a classificações feitas por seres humanos – os cybrarians. Na imagem a seguir, vemos a evolução dos sentimentos ao longo do jogo e o resultado final na tag cloud – o que está em verde é sentimento positivo e em vermelho, negativo.
Os primeiros testes do FAMA foram feitos no ano passado durante da Copa das Confederações e de lá pra cá nesse último ano foram feitos diversos refinamentos para que o sistema conseguisse alcançar o estágio atual.
Mas o que futebol tem a ver com marketing e business? Jogos de futebol estão entre os eventos que mais geram volumes de posts no Twitter e formam, assim, uma base interessantíssima para teste e refinamento da plataforma. A partir daí, essa mesma tecnologia pode ser usada para analisar virtualmente qualquer tipo de demanda, inclusive saúde, status social, sentimentos em relação a marcas, produtos, personalidades, políticos, etc. O uso de CC pode ser usado também em relação a um perfil específico ao longo do tempo para traçar características de personalidade e comportamento. Segunto Penhanez, consegue-se determinar até quando uma mulher está de TMP por meio da variação de termos que ela usa em seus tweets.
Esse é apenas o início de uma nova era em que a inteligência artificial nos alavancará para novos patamares da humanidade, ou será a última grande invenção do homem. O futuro dirá. Mas quando esse futuro chegará? Segundo Ray Kurzweil, um dos principais cientistas do nosso tempo, a singularidade tecnológica — ou seja, quando a capacidade das máquinas superará à do ser humano e continuará a evoluir – está prevista para 2045. Portanto, os próximos 30 anos certamente serão bastante emocionantes e decisivos na história da humanidade.
(*) Esse artigo foi originalmente publicado no Mundo do Marketing.
(*) Photo by Alex Knight on Unsplash