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Uma brevíssima história do meme

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Martha Gabriel
por Martha Gabriel, 19 de janeiro de 2012 18:57

Os memes são tão antigos quanto a humanidade e estão intrinsecamente relacionados com a evolução cultural. Memes são informações replicantes que, como os vírus, infectam o nosso pensamento, afetam o nosso comportamento, e se propagam de cérebro em cérebro, formando nossa cultura. Assim, o meme é o gene cultural que se reproduz.

Qualquer coisa que possa ser aprendida e transmitida enquanto unidade autônoma é um meme. Por exemplo, ideias, parte de ideias, valores, sons, linguas, palavras, bordões, desenhos, podem ser memes. As doutrinas e religiões são formadas por memes que perduram por séculos. Gírias são memes. O modo como nos vestimos são memes.

O termo “meme”  foi cunhado por Richard Dawkins em 1976 no seu bestseller “O Gene Egoísta”, e vem da palavra grega “mimeme” (que significa “algo que é imitado”). O livro apresenta a idéia do Darwinismo universal em que não apenas as espécies, mas qualquer coisa evolui baseada em variedade, seleção e hereditariedade. Assim, o meme está para a cultura como o gene está para genética. Os seres humanos são máquinas genéticas e máquinas meméticas.

É importante ressaltar que um meme não é um viral, pois enquanto o viral é uma unidade de informação que se espalha sem sofrer alterações, um meme se espalha como um comportamento imitado. O viral termina nele mesmo e o meme pode se reinventar a cada edição. O viral tem fidelidade de copia e o meme não. Por exemplo, o vídeo abaixo da campanha Real Beleza da Dove é um viral e não um meme, porque foi esparramado sem nenhuma alteração – ele foi replicado, não imitado.

 

Já um trecho do filme “A Queda” virou um meme, pois já  foi e continuia a ser usado  em situações distintas, com comportamentos de imitação para brincar com situações que envolvem desde times de futebol, políticos, empresas, até outros memes, como o da #LuizaEstanoCanada, como mostrado no vídeo abaixo.

 

E porque os memes se espalham? Alguns se espalham porque são úteis, bons, bonitos ou porque estejam relacionados a poder, medo, crenças, novidade, mas outros se espalham sem que haja nenhuma explicação para que existam, como, por exemplo, o curioso meme “heads in freezer”, em que pessoas do mundo todo começaram a postar fotos na internet com a cabeça dentro do refrigerador, associadas ao número 241543903, como mostra a figura abaixo.

 

Foto do meme Heads in Freezers

Foto mostrando diversas postagens do meme “heads in freezers” (fonte: http://knowyourmeme.com/memes/241543903-heads-in-freezers)

 

Existe uma área formal de estudo dos memes, que e a memética. No entanto não existe uma fórmula que explique como um meme se espalha (da mesma forma que não existe uma receita para os virais). Estudos mostram que existem alguns fatores que favorecem a disseminação de um meme, e diversos pesquisadores estudam a dinâmica das ideias contagiosas, como o filósofo Dan Dannet, Dan Zarrella,  e os brasileiros Raquel Recuero e Fernando Fontanella.

Uma coisa é certa, os memes que são fáceis de memorizar e reproduzir têm chances maiores de se propagar de forma natural. A simplicidade tende a vencer o caminho da evolução.

E se os memes existem desde a origem da humanidade, porque o interesse tão grande agora? Se na antiguidade era necessário que uma pessoa estivesse fisicamente próxima da outra para aprender um comportamento e replicar, com a evolução das tecnologias de comunicação ao longo da história, foi se formando uma estrutura cada vez mais propícia para a propagação dos memes, culminando com a banda larga na internet que passou a permitir que qualquer pessoa possa potencialmente se tornar um gerador e/ou difusor de memes. E mais do que isso, a plataforma da web 2.0 fornece um ambiente rico para permitir a criação e edição de memes tecnológicos, inviáveis anteriormente. Assim, a internet favorece a criação e propagação de memes devido a vários fatores: maior facilidade e velocidade de propagação, disponibilidade full time (24×7), repositório de ferramentas para criação de memes e replicação de comportamentos (editores de video, audio, imagem).

Assim, em outras palavras, a internet amplificou o poder de geração e propagação de memes e virais (veja neste post alguns dos mais famosos desses hits na web, como o viral “Oogachaka Baby” e o meme Rickroll).

Hoje, um dos mais importantes sites do mundo quando nos referimos a memes na internet é o 4chan.org. Seus usuários são anônimos e postam todo tipo de imagens, e uma boa parte dos memes que se esparramaram pela internet nasceu lá, como os famosos Rage Guy, Fuck Yea, Troll Face, LOL Guy, Challenge Accepted, Forever Alone & Epic Smiley.  Para conhecer e compreender os memes que vão surgindo na internet, o site “Know Your Meme” é uma ótima fonte.

Nesse exato instante, bilhões de memes estão latentes no mundo para serem copiados e sobreviverem na evolução cultural. E fica aqui uma reflexão final para encerrar essa brevíssima história: será que somos nós que escolhemos os memes ou será que são eles que nos escolhem?

— Martha Gabriel
19.jan.2012

13 Comentários

  1. […] Para entender melhor o que são memes e como surgem, indico esse texto ótimo da Martha Gabriel em seu blog pessoal, “Uma brevíssima história do meme”. […]

  2. […] publicado originalmente no site https://www.martha.com.br/uma-brevissima-historia-do-meme/ Filed Under: Colunistas, Martha Gabriel Tagged With: canadá, gabriel, história, luiza, martha, […]

  3. […] velocidade com que a informação se espalha nas redes faz com que muitas vezes piadas, montagens e memes sejam criados antes que os fatos sejam esclarecidos por matérias nos veículos […]

  4. BaseKit disse:

    Bem esclarecedor. E tem muita gente que pensa que os memes surgiram com o Facebook. Muito informativo, Marta! =)

  5. Nyvia disse:

    Interessante Martha!Plagiando a lei de Lavoisier: no processo de comunicação “nada” se cria, nada se perde tudo se transforma.

    • Apostily disse:

      Belíssimo artigo! estou realizando um trabalho para faculdade e encontrei tudo o que precisava para pautar minhas pesquisas. Difícil encontrar um conteúdo tão completo em nossa língua pátria. Obrigado por compartilhar.

  6. […] Os memes são tão antigos quanto a humanidade e estão intrinsecamente relacionados com a evolução cultural. Memes são informações replicantes que, como os vírus, infectam o nosso pensamento, afetam o nosso comportamento, e se propagam de cérebro em cérebro, formando nossa cultura. Assim, o meme é o gene cultural que se reproduz. Qualquer coisa que possa ser aprendida e transmitida enquanto unidade autônoma é um meme. O termo foi cunhado por Richard Dawkins em 1976 no seu bestseller “O Gene Egoísta”, e vem da palavra grega “mimeme” (que significa “algo que é imitado”). É importante ressaltar que um meme não é um viral, pois enquanto o viral é uma unidade de informação que se espalha sem sofrer alterações, um meme se espalha como um comportamento imitado. Por exemplo, o vídeo… Continue lendo no blog da Martha Gabriel […]

  7. […] era outra coisa, mas se pararmos para analisar bem, até que não foge muito do significado que eu conhecia.  Bom, em todo caso, fiz o meu. Se liguem […]

  8. MARIANE FIGUEIREDO disse:

    Olá, Martha.
    Acho que são os memes que nos escolhem!
    Como os semas nos significamos, os memes já existem e são meio caminho entre o pensamento e a materialização que o universo virtual apenas tornou palpável.

  9. Larissa Stehlgens disse:

    Ótima história. Parabéns pela postagem esclarecedora, Martha!

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